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Portugueses falam pouco sobre dinheiro em casa e preferem segurança a rentabilidade nos investimentos

Estudo desenvolvido pelo Doutor Finanças e pelo Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa, que revela hábitos financeiros das famílias portuguesas, conclui que muitos dos agregados não conversam sobre dinheiro em casa. Além disso, o barómetro conclui ainda que depósitos a prazo e Certificados de Aforro continuam a ser o investimento que mais atrai os portugueses, que ainda escolhem a segurança dos ativos em detrimento da sua rentabilidade.

Inês de Almeida Fernandes

O dinheiro continua a ser um tema ausente nas casas portuguesas e cerca de um terço das famílias admite não falar sobre dinheiro ou fazê-lo apenas muito esporadicamente, de acordo com o Barómetro Doutor Finanças de Hábitos Financeiros, realizado em parceria com o Centro de Estudos Aplicados (CEA) da Universidade Católica Portuguesa.

Os dados recolhidos mostram que 16% das famílias só fala sobre dinheiro quando surge algum assunto importante, como uma despesa inesperada, 10% fazem-no raramente e 9% revelam nunca o fazer. Por outro lado, 31% dos inquiridos dizem abordar o tema em casa com regularidade e 32% indicam fazê-lo muito frequentemente.

A tendência para tornar o dinheiro num tema tabu ou simplesmente num tópico a evitar é maior entre os inquiridos com mais de 45 anos, com os agregados com mais de 65 anos a representar 35% do total de inquiridos que disse não conversar sobre dinheiro. Seguem-se as famílias compostas por pessoas entre os 45 e os 55 anos e os 55 e os 65 anos.

No entanto, e apesar do assunto ainda ser evitado por muitas famílias, os portugueses mostram autonomia na gestão do seu dinheiro e particularmente das suas contas bancárias. A grande maioria (61%) indicaram ser os únicos responsáveis pela gestão da sua conta. Mesmo entre os participantes que têm um cônjuge, a percentagem de pessoas com contas separadas é de 57%, embora 54% também relatem ter contas conjuntas.

Quais são os hábitos de poupança dos portugueses?

No que diz respeito a poupanças, metade das pessoas que responderam ao inquérito dizem poupar entre 5% e 20% do salário, sendo que a maioria (32%) prefere reservar dinheiro para alocar a poupança logo no início do mês.

Cerca de 16% dos inquiridos disse preferir pôr dinheiro de parte só no fim do mês, enquanto 19% indicaram poupar apenas de vez em quando - sem regularidade –, 5% só o fazem quando recebem subsídio de férias ou Natal e 21% dizem não ter o hábito de reservar dinheiro para poupanças. Os mais velhos, acima de 55 anos, são os que menos poupam.

Entre os mais jovens (18-25 anos), 5% dizem reservar dinheiro para poupança logo no início do mês, enquanto 2% o fazem apenas no fim do mês. Há 2% que não costumam reservar dinheiro para essa finalidade, 1% que só poupam de vez em quando e mais 1% só o fazem quando recebem subsídio de férias ou Natal.

Nas faixas etárias seguintes – entre os 25 e 35 anos, 35 e 45 anos e 45 e 55 anos -, a maior parte dos inquiridos preferem reservar dinheiro para poupança logo no início do mês e apenas 4% o fazem no fim. As percentagens de pessoas que não costumam pôr dinheiro de parte para poupança é mais elevada nas faixas etárias dos 55 aos 65 e de mais de 65 anos, sendo de 5% e 8%, respetivamente.

Quanto aos objetivos para a poupança, a maior parte dos portugueses (60%) fá-lo para ter uma reserva em caso de necessidade, ao passo que 21% tem uma compra futura em mente. Há 13% que revelam não ter um objetivo concreto e 15% que indicam não conseguir poupar de todo.

Portugueses ainda preferem segurança a rentabilidade nos investimentos

Quando se fala em investimentos, a segurança continua a ser o principal foco dos portugueses. Enquanto 42% dos inquiridos disseram que a segurança é o principal critério para realizar um investimento, apenas 22% indicaram a rentabilidade como o mais importante. Embora investir pareça estar, aos poucos, a entrosar-se nos hábitos das famílias, metade das que participaram no estudo continuam a não investir.

Os depósitos a prazo, em queda há mais de um ano, e os Certificados de Aforro, com rentabilidade a descer desde abril, continuam a liderar as escolhas com 29% e 15% dos participantes, respetivamente, a preferir estas opções. Os que escolhem apostar num único produto financeiro, preferem ficar pelos depósitos a prazo (17%). Quanto a outro tipo de investimentos, apenas 10% investem em ações, 9% em fundos, 4% em ativos digitais (bitcoins) e 11% em outros produtos financeiros.

No que diz respeito à escolha de intermediários para o processo de investir, a banca tradicional continua a ser a escolha da maior parte dos portugueses (48%), sobretudo das mulheres. Há ainda cerca de metade dos inquiridos que diz investir de forma independente, mas os que precisam de ajuda continuam a preferir aconselhar-se junto do seu banco habitual (19%).

As crianças devem participar em conversas sobre dinheiro?

Se o dinheiro já é um tema fraturante entre os adultos da família, a mesma tendência se revele quando se trata dos pais a falar sobre dinheiro com os filhos. De acordo com o barómetro, 33% dos pais de crianças até aos seis anos diz não abordar o assunto por não se tratar de um "tema para crianças" e cerca de 2% afirmam que não sabem como o fazer ou que deve ser um tópico abordado na escola.

Já 31% dos pais com crianças da mesma idade admite debater o tema com os filhos para os ajudar a gerir as suas poupanças (27%), quando surge um problema relacionado com dinheiro (3%) e para que estejam a par das decisões financeiras que se tomam em casa (1%).

À medida que as crianças vão ficando mais velhas, são cada vez menos os pais que preferem não falar sobre dinheiro com os filhos. Entre os 6 e os 10 anos, 16% dizem não o fazer por não ser um tema para crianças, enquanto 3% não sabem como o fazer ou pensam que na escola é que o tema deve ser abordado. Há 49% dos pais que falam sobre dinheiro com os mais novos para os ajudar a gerir poupanças, enquanto 13% o fazem para os envolver nas decisões financeiras. A minoria (2%) só o fazem quando existe um problema.

Nas faixas etárias entre os 10 e 15 anos e os 15 e 18 anos, a maior parte dos pais (50% e 48%, respetivamente) admite falar sobre dinheiro com os filhos para os ajudar a gerir o seu dinheiro/poupanças, enquanto um número bastante mais baixo (3% e 2% respetivamente para cada faixa etária), dizem não o fazer por não ser um tema adequado à idade.

No entanto, e apesar de muitos pais indicarem que não abordam o tema com os filhos por não se tratar de um assunto adequado aos mais novos, os jovens vão recebendo dinheiro das famílias, pelo que seria importante que aprendessem como funciona e como o devem gerir.

Os dados recolhidos indicam que a grande maioria (77%) dos pais com filhos até seis anos diz nunca lhes dar dinheiro, valor que cai para 30% entre os seis e os 10 anos, para 10% entre os 10 e os 15 anos e para 3% entre os 15 e os 18 anos.

Os pais com filhos entre os seis e os 18 anos que costumam dar dinheiro aos filhos, dizem fazê-lo maioritariamente quando estes precisam, sem uma periodicidade definida. Já os que preferem estipular uma periodicidade, optam por mesadas ou semanadas. A mesada é o método mais comum entre os seis e os 10 anos (17%) e entre os 15 e os 18 anos (27%). Já entre os 10 e os 15 anos a semanada fica à frente (17%).

Como é que os mais novos gerem as suas poupanças?

Quanto às decisões dos mais novos sobre o que fazer com o seu dinheiro, independentemente da faixa etária, mais de 70% dizem poupar uma parte do que ganham, sendo que 49% não tem nenhum objetivo específico para essa poupança. Já 43% dos jovens disseram poupar com o objetivo de fazer uma viagem ou comprar um bem mais caro, por exemplo.

No que diz respeito ao dinheiro que não poupam, este é gasto maioritariamente em lanches e refeições na escola (25%) e em roupas e artigos pessoais (25%). Cerca de 17% dizem gastá-lo em saídas com amigos e outros 17% em jogos e outros artigos de lazer. Há ainda uma percentagem de 16% dos jovens que utilizam o montante não poupado para comprar livros e 10% que escolheram a opção "outras coisas".

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