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PodTEXT | IRS: Vale a pena pedir ajuda a um contabilista? Posso ganhar centenas de euros a mais?

Será que compensa pedir ajuda a um contabilista para entregar o IRS? Descubra como simples escolhas podem valer centenas ou até milhares de euros a mais no seu reembolso. Neste episódio do "Contas Poupança", partilho casos reais e dicas práticas sobre quando pode fazer o IRS sozinho e quando pode compensar (e muito!) recorrer a um contabilista, mesmo que tenha de pagar algumas dezenas de euros.

Inês de Almeida Fernandes

[Introdução - Pedro Andersson]

Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Faço de conta que vai sentado/a aqui ao meu lado e juntos vamos arranjando maneiras de termos mais dinheiro ao fim do mês ou ao fim do ano.

Muitos de vocês já terão entregado a declaração de IRS, suponho eu. Mesmo que já o tenha feito, deve ouvir este episódio, porque se este caso se aplicar a si, ainda pode corrigir a sua declaração. Isto é uma informação muito importante, porque todos devíamos saber que podemos entregar duas, três, quatro, cinco, dez, vinte declarações de IRS, sempre uma a substituir a anterior, durante este período que vai desde um de abril a 30 de junho.

Então, a pergunta a que vamos responder hoje é: devo recorrer a um contabilista para fazer o IRS? Isso pode fazer a diferença entre ganhar centenas de euros a mais? É uma questão um pouco provocatória, mas já vou explicar para que não haja contabilistas zangados comigo. Claro que se recorrer a um bom profissional desta área, mesmo que não tenha um resultado diferente daquele que teria se fizesse a entrega sozinho, tem pelo menos a garantia de que tem o melhor resultado possível.

Pode entregar o seu IRS sozinho desde que saiba o que está a fazer, ou então, se não sabe, o melhor é de facto recorrer a profissionais. Mas isso é em qualquer circunstância da nossa vida. Também se aplica a um canalizador ou a um eletricista. Portanto, não tenho nenhum problema em mudar uma torneira ou mudar uma lâmpada, desde que o saiba fazer. Se não souber, obviamente tenho de pagar a um profissional. No IRS, é a mesma coisa.

Antes de mais, deixem-me dar-vos algum contexto. Recebi uma mensagem de uma pessoa que me disse o seguinte: ia receber 100 euros, fez a simulação do IRS, mas depois falou com um contabilista e o profissional entregou ou simulou o IRS e em vez dos 100 euros, o reembolso passava a mil.

E então a pergunta é, qual das duas situações é que eu devo entregar? Ora, perante esta situação, eu achei a pergunta de facto muito estranha, porque, no meu entender, a resposta é óbvia. Pegando nessa situação, partilhei essa mensagem nas minhas redes sociais para demonstrar que, por vezes, a nossa dificuldade em aceitar que há situações melhores do que as que conhecemos, nos leva a desconfiar.

Achamos sempre que não é possível ser tão bom. E eu queria mostrar que às vezes pode mesmo ser bom, era essa a minha intenção ao partilhar essa história.

Entretanto, comecei a receber muitas reações diferentes. De facto, fico sempre surpreendo quando a minha intenção é uma, mas depois o resultado é completamente diferente. Já percebi que é preciso muito cuidado porque há sensibilidades muito diferentes.

Fui interpretado como estando a rebaixar a pessoa e recebi vários comentários a dizer que é normal que a pessoa desconfie, e que até faz bem, porque quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Ou seja, muita gente assumiu que devia estar alguma coisa mal na simulação feita pelo contabilista.

Houve algumas pessoas que começaram a dizer mal dos contabilistas, porque há profissionais que utilizam linhas vermelhas. Isto é, que entregam o IRS roçando a ilegalidade ou, em alguns casos, até passado para a ilegalidade para aumentar o reembolso das pessoas.

Mas também houve outras pessoas que interpretaram como uma situação ótima, porque significa que os contabilistas são profissionais e, como sabem o que fazem e optam pelas opções corretas mais adequadas ao perfil de cada pessoa, conseguem aumentar o reembolso ou fazer com que as pessoas paguem apenas aquilo que é justo.

Portanto, reparem como contar uma história, descrever uma situação, levou a tantas interpretações diferentes. O que eu queria neste episódio é ressalvar, mais uma vez, que esta situação tem a ver com a falta de literacia financeira de muitos de nós.

Muita gente questionou como era possível que fosse o Portal das Finanças a estar errado ou a simulação do IRS automático. O Estado não está a enganar as pessoas. Meus amigos, mais uma vez reforço este ponto: estes 15 anos de experiência que tenho enquanto jornalista, todos os anos a acompanhar o IRS, falando com especialistas, com contabilistas, com fiscalistas, com cidadãos, com o próprio Estado, com governantes, aquilo que vos posso garantir é que o IRS automático está feito para ser chapa cinco.

Ou seja, aquilo serve para a maior parte das situações e se as contas que lá estão forem aceitas pelo contribuinte, então aquela simulação e aquelas contas vão ser aceites pelo Estado. Depois é emitido o reembolso ou é emitida a nota de pagamento. Isso está errado? Está o Estado a enganar o cidadão? Claro que não. Está a fazer as contas de acordo com as informações que o contribuinte deu ou não deu e com as informações que o Estado recebeu ou não recebeu.

Ainda posso adicionar aqui a possibilidade de haver um bug no sistema. Portanto, aquilo é uma máquina, não há uma pessoa a confirmar os dados de cada cidadão. Agora, o que vos posso dizer é que há tantas situações específicas, tantas exceções na lei, tantas deduções que são particulares, mas que tem de ser o contribuinte a dizer que as tem. Há linhas específicas para cada situação.

E se o cidadão ou um contabilista – porque mesmo o contabilista tem de ser informado pelo cidadão das suas circunstâncias, caso contrário não adivinha –, não especificam, então as diferenças podem ser de milhares de euros. Podem mesmo ser, mas nenhuma das entregas da declaração de IRS está errada, simplesmente está é a não beneficiar o contribuinte.

No caso específico desta pessoa que mandou a mensagem, depois estive a conversar com ela, o que ela me explicou é que abriu o IRS automático e só lá estava a declaração automática referente a si. A questão é que a pessoa é casada e então entregou como estava porque não aparecia a opção de entrega em conjunto.

Depois quando falou com o contabilista e ele fez a simulação em conjunto, afinal recebiam mil euros. É uma situação específica, ok? Porque às vezes há casais em que um tem direito ao IRS automático e o outro não tem. A pessoa pensa que como está o IRS automático, aquilo está tudo certo e avança e não chega a simular a entrega do IRS em conjunto, que normalmente é mais vantajosa. É uma situação específica.

Outra situação é o IRS jovem. Se um jovem aceitar o IRS automático, está a desperdiçar centenas ou milhares de euros, porque não está contemplado. Para usar o IRS Jovem tem de recusar o IRS automático e tem de entregar manualmente escolhendo a linha, se não me falha agora a memória, que diz IRS Jovem.

Outro exemplo: alguém que tenha um atestado de incapacidade de 60% ou superior pode até aceitar o IRS automático, mas vai sair prejudicado. Não deve aceitar o IRS automático, porque os benefícios do atestado só entram em vigor se a pessoa entregar manualmente, tiver registado o atestado nas finanças e todos os anos incluir esse valor na linha respetiva. Se não o fizer é como se o atestado não existisse.

Ainda mais outra situação: quem tem o atestado pode trocar a linha do seguro de vida e o seguro de vida, por exemplo, do crédito à habitação, desconta também no IRS a pagar. Quem tem atestado de incapacidade e tem terapias e despesas de educação deve trocar esse valor da linha normal de saúde e educação para essa linha específica e recebe muito mais.

Quem tem mais valias da venda da habitação própria e permanente, ou mesmo que seja de uma segunda habitação, deve sempre contactar um contabilista. Porquê? Porque eles conhecem a legislação e há circunstâncias em que, apresentando algumas despesas ou dependendo da idade da casa ou da data em que se tornou proprietário está, por exemplo, isento de mais valias.

Portanto, são detalhes que os profissionais conhecem, ou se não conhecem deviam conhecer, e que podem fazer uma diferença gigantesca no IRS.

Reparem, o nosso maior cliente todos os anos é o Estado. Não é o banco, não são as seguradoras, não é a empresa da eletricidade, do gás ou dos combustíveis. É o Estado. Portanto, se conseguirmos ser piores clientes para o Estado, ou seja, não aceitar o preço que eles nos dizem para pagar, mas regatear, negociar, renegociar, aproveitar todos os nossos cupões de desconto e todas as nossas estratégias de marketing do ponto de vista do contribuinte, o resultado pode ser absolutamente extraordinário.

Deixem-me dar-vos ainda mais um outro exemplo, que é o englobamento. O englobamento não está acessível no IRS automático. E atenção que todas estas coisas que estou a dizer podem ser feitas pelo cidadão, não é preciso que seja um contabilista, mas lá está, se o cidadão souber fazer.

No entanto, duvido que a maior parte dos cidadãos saiba sequer do que é que estou a falar em metade destas coisas que acabei de vos dizer. Se sabem, parabéns! Eu demorei anos até compreender todos estes detalhes e ainda assim, posso dizer abertamente, que eu não entrego o meu próprio IRS, entrego através de um contabilista.

E é dinheiro bem gasto no meu caso. Porquê? Porque tenho tantas situações específicas, nomeadamente por causa dos investimentos, em que tenho medo de fazer alguma coisa errada e por isso entrego tudo ao contabilista e dou as instruções sobre o que se aplica ao meu caso específico.

Por exemplo, digo especificamente todos os anos que quero que retire todos os meus PPRs do IRS. Porquê? Porque conscientemente e sabendo que me pode estar a prejudicar,  não quero que eles estejam no IRS porque assim posso levantar qualquer um dos meus PPRs no minuto em que quiser.

Também acaba por ser uma decisão consciente do ponto de vista financeiro porque, como já fiz as contas, sei que por pedir faturas de tudo, por aproveitar todas as deduções, por ter algumas despesas específicas, já sei que atingi o limite máximo das deduções. Portanto, podia apresentar mais de dez mil euros de deduções que o meu reembolso não vai aumentar.

Eu sei que tenho de pagar impostos. Sei que tenho rendimentos acima da média e que não é por pôr os meus PPRs no IRS que vou aumentar o meu reembolso. Mas já que vou ter de pagar, então vou buscar o máximo que posso em deduções e vou pagar apenas a minha parte correspondente para o Estado funcionar. Todos nós temos de pagar impostos se quisermos viver neste país.

Portanto, em resumo, há bons contabilistas, há excelentes contabilistas e há também maus contabilistas, tal como há bons jornalistas, excelentes jornalistas, maus jornalistas e isto pode ser aplicado a qualquer profissão. No entanto, se não sabe como funcionam os impostos, nomeadamente o IRS, ou tem circunstâncias específicas na sua vida que sabe, ouviu dizer, ou leu, que pode aumentar as suas deduções e não sabe exatamente como fazer isso, fale com um contabilista.

Desde que arranje um em que confie e tenha boas referências dele, este é um serviço que eles prestam, por isso aproveite-o. Se pagar este serviço garantir que recebe o máximo de reembolso possível ou que paga apenas o que é justo, então venha essa despesa! Isto é algo que fazemos pela nossa saúde financeira.

Em conclusão, o importante é conhecer os meus direitos e exercê-los. Posso fazê-lo sozinho ou com a ajuda de profissionais, isso fica ao critério de cada um. Agora, não fique admirado, sempre que ouvir e ler histórias destas, de pessoas que, por escolherem uma linha ou terem posto uma cruzinha aqui e não ali conseguiram aumentar o seu reembolso ou pagar menos centenas ou até milhares de euros. Isso é perfeitamente possível e verdade.

Não encare o seu reembolso do IRS automático como uma verdade absoluta. Em alguns casos, sim, estará tudo certo, não há problema nenhum. Será a maioria dos casos, não tenho a mínima dúvida sobre isso, mas há situações muito específicas em que entregar o IRS automático, ou até entregar manualmente, mas sozinho e pensando que está a fazer tudo bem, nem sempre é bom.

Lá porque sempre fez assim e sempre teve reembolso ou pagou pouco, isso não significa que esteja certo. Quer dizer que teve reembolso com as contas que fez, mas se calhar se fizesse com outras contas e outras regras, receberia na mesma, mas muito mais.

Muito obrigado por me ter acompanhado em mais esta boleia financeira. Espero que estas conversas sejam úteis para abrir os nossos horizontes quando falamos de dinheiro, de impostos e da nossa relação com o Estado. Temos de ser cidadãos mais bem informados. Isso é bom para nós.

Boas poupanças!

Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro

Saiba como pequenas decisões — como escolher entregar em conjunto, declarar PPRs ou deduções específicas — podem significar centenas ou até milhares de euros a mais no seu reembolso.

Descubra também porque o IRS automático pode ser conveniente, mas nem sempre o mais vantajoso. Aprenda a proteger o seu dinheiro, evitar erros e maximizar o que é seu por direito.

Se quer pagar menos impostos e conhecer melhor os seus direitos como contribuinte, este episódio é para si.

Boas poupanças!

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