[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e aproveito as minhas viagens de carro para falar consigo sobre dinheiro. Hoje quero falar-vos sobre amortizar o crédito à habitação.
Portugal é um país onde quase todas as famílias têm casa própria ou têm o sonho de ter casa própria. Arrendar é para uma minoria, ao contrário de outros países desenvolvidos. Nós temos essa tradição de querer a nossa casinha. Mas, como não somos ricos, não temos grandes rendimentos, não temos grandes heranças, aquilo que temos à nossa mão é pedir um crédito ao banco para comprar a nossa casa e ficarmos a pagá-la durante 30, 35, 40 anos. Praticamente quase a nossa vida inteira de trabalho.
Ora, estou a falar outra vez sobre este tema da amortização do crédito à habitação, porque fiz uma reportagem sobre amortizar e comecei a receber dezenas de mensagens da vossa parte. E muitas dessas mensagens eram exemplos positivos, encorajadores, de bons exemplos.
Peguei num desses exemplos e partilhei-o na minha página de Instagram e acabou por se tornar polémico. Era alguém que dizia que tinha, no ano passado ou este ano, amortizar 40 mil euros no crédito de habitação. E essa pessoa referiu que, no passado, já tinha amortizado também de uma vez 17 mil e de outra vez também um outro determinado valor.
Com isto, a pessoa conseguiu que a prestação baixasse de 800 euros mensais para 225 euros mensais. Reparem no aumento salarial que esta pessoa deu a si própria porque conseguiu amortizar estes valores, que acho que todos consideramos elevados.
Acontece que, aquilo que me parece, é que em Portugal há duas situações: pessoas que não conseguem ficar contentes com o sucesso e os resultados de outras pessoas e pessoas que, por vezes, usam estes casos como reforço para dizer que não conseguem. Ou seja, as pessoas pensam que como não conseguem amortizar um valor como 40 mil euros, então nem vale a pena pensar em amortizar.
O que vos queria dizer, andando um bocadinho à volta disto, mesmo correndo o risco de depois levar pancada nos comentários, é que há sempre uma enorme divisão entre as pessoas. É normal que nem toda a gente tenha a mesma opinião, nem sequer os mesmos rendimentos ou atitudes perante a vida.
No entanto, começam imediatamente a dizer que eu estou alienado da realidade ou que isso é a realidade lisboeta, o que nem faz sentido para estes casos. Além de que, quem já me segue há algum tempo, sabe que sou de uma aldeia no sopé da Serra da Estrela, nem sequer sou lisboeta.
Conhecendo ambas as realidades, tenho noção que os rendimentos em Lisboa, em média, são dos mais altos do país. E também sei que, por exemplo no interior, as pessoas conseguem viver melhor com menos dinheiro do que se vive em Lisboa. Claro que isto depois depende também dos rendimentos, mas até acaba por depender mais da cabeça das pessoas do que propriamente da carteira.
Mas, avançando, queria só fazer-vos um breve resumo dos vários comentários que li e dos argumentos que utilizaram para mostrar que este tipo de exemplos positivos que às vezes partilho, não fazem sentido. Começamos por afirmações que dizem que pessoas que conseguem amortizar este tipo de valores elevados têm de ser riquíssimas, porque ninguém consegue juntar 40 mil euros num ano. Bom, para começar, a pessoa em questão nunca disse que juntou esse dinheiro num ano, mas sim que amortizou 40 mil euros de uma vez, que juntou durante bastante tempo.
Outro argumento utilizado foi que de certeza que essa pessoa não tem filhos, porque tendo não conseguia. Isto não é exatamente assim e posso até falar-vos do meu caso. Eu, tanto antes como depois de ter filhos, não poupava nada. Gastava tudo o que ganhava. Mas não é impossível pôr as contas em ordem depois. Claro que um casal sem filhos ou alguém solteiro deve aproveitar enquanto assim é para poupar o máximo possível e ter as finanças organizadas, mas não é impossível continuar a fazer isso depois.
Outros comentários diziam que um casal em que os dois ganhem o salário mínimo, não teria possibilidade de amortizar um crédito dessa maneira. É óbvio que não. Para um casal com esse tipo de rendimentos, conseguir sequer cumprir com as responsabilidades financeiras que têm sem falhar já é uma vitória de outro mundo.
Há quem tenha dito que as pessoas deste exemplo tinham de ter salários milionários e que assim é fácil. Isto é apenas um breve resumo da maior parte dos argumentos que foram utilizados para dizer que este bom exemplo não faz sentido e que não se pode aplicar à realidade portuguesa.
O senhor que partilhou o seu exemplo, teve a amabilidade de me mandar uma segunda mensagem a explicar a situação dele. Esse esclarecimento também já está publicado no meu Instagram para que todos vocês possam ver. Nessa segunda mensagem, explicou-me que demoraram muito tempo até conseguirem juntar esse dinheiro e que têm salários que, não sendo de rico, são de 1400 euros no caso dele e de 1700 euros no caso da esposa.
Aproveito para esclarecer já que estes salários são acima da média, sim, mas até estranhamente, porque não são grandes salários. Comparando com o salário mínimo, nem sequer chega a ser o dobro. Portanto, ganhar o dobro, ou nem isso, do mínimo, não me parece que isso seja um salário de rico. Quase nem é de classe média alta.
Aquilo que pretendo, sobretudo para aqueles que fazem este tipo de críticas, é que se calhar o problema que têm com isto não é por ganharem pouco. Porque acho que alguém que ganha pouco percebe como é que o dinheiro funciona. Acho que há aqui qualquer coisa que não joga bem na sociedade portuguesa e na nossa relação com o dinheiro.
Queria dizer-vos que há uma grande percentagem de trabalhadores portugueses que têm salários de 1400 ou 1500 euros e que com estes salários é possível, sim, fazer muita coisa, nomeadamente amortizar o crédito à habitação. Se falarmos de um casal que em conjunto tenha 2300, 2400, 2500 euros por mês a entrar em casa, já é possível fazer muitas coisas.
Não se trata de fazer milagres, mas é possível gerir o dinheiro com inteligência, com regularidade e com consistência, tendo uma estratégia, conhecimento e foco. Acho que é isso que falta a muitas famílias portuguesas e a muitas pessoas, mesmo solteiras ou que vivam sozinhas. Foco e objetivos.
É preciso saber quanto queremos ganhar, quanto estamos a ganhar atualmente, quanto estamos a gastar e em quê. É preciso estabelecer objetivos e saber quanto é que quero ter poupado e investido daqui a um ano, três, cinco, dez, vinte e na idade da reforma. Quando definimos que o objetivo é amortizar o crédito à habitação, toda a vida financeira muda.
Até fui pedir ao ChatGPT que me desse uma lista de profissões em Portugal em que seja normal ganhar à volta de 1500 euros por mês. Deu-me uma lista bastante grande, que partilhei com vocês no Instagram, mas posso dar aqui alguns exemplos. Um professor a meio dos escalões ganha 1500 euros, um enfermeiro que faça turnos, horas extraordinárias ou tenha uma função de chefia ganha 1500 euros, o mesmo para um motorista de pesados.
Eletricistas, canalizadores e pessoas que fazem trabalhos técnicos que atualmente ninguém quer fazer, até na construção civil, há várias funções em que é possível ganhar 1500 euros. E nem sequer falando de outras profissões em que se ganha muito mais que isso.
Aquilo que vos quero dizer é que há muitas profissões, e já não falo da economia paralela, de pessoas que têm sim o seu trabalho onde são mal pagas, há muita gente que, sim, recebe o salário mínimo nacional, mas sai do trabalho ou aos fins de semana tem outras atividades, muitas vezes sem sequer passar a recibos verdes, e onde ganham mais 500, mais mil, mais 1500, mais dois mil euros.
Quando vos falo sobre finanças pessoais neste contexto, estou a falar de todo o dinheiro que entra em vossa casa, independentemente de cumprirem com as vossas responsabilidades de cidadão ou não. Se entra dinheiro em vossa casa, é esse dinheiro que têm para gerir.
E vou, mais uma vez, pegar num exemplo de uma situação mencionada no Instagram. Uma senhora disse-me que é enfermeira e que nunca ganhou mais do que 1300 euros. Respondi-lhe que fizesse apenas uma conta. Se é esse o valor que ganha e se o multiplicar por 14 meses, juntando subsídio de férias e Natal, e a seguir dividir por 12 meses, o salário é superior a 1500 euros por mês.
Porque quando fazemos as contas ao ano e ao dinheiro que entra, ao que entra líquido, não bruto, às vezes ganhamos muito mais do que achamos. O que acontece é que podemos gastar o dinheiro que coisas que não nos apercebemos, mas é aí que entra o tal foco e objetivo.
Vou repetir. Quem ganha 1300 euros por mês ganha, em média, mais de 1500 euros na verdade, considerando o total anual. A questão que se coloca é: como é que estou a gerir o dinheiro que ganho? Será que posso, por exemplo, amortizar 200 euros por mês no crédito à habitação? Ou posso pôr de lado esses 200 euros por mês e sempre que atingir mil euros amortizo?
Acho que a grande maioria de vocês pode fazer isso perfeitamente, só que não o faz pelas mais variadas razões e todas elas com a sua lógica. Mas, por favor, não digam que é preciso ser rico ou ganhar muito bem para ter como objetivo, por exemplo, acabar de pagar a casa 10 ou 15 anos mais cedo, porque é perfeitamente possível.
Quem não conseguir amortizar os tais 10 ou 15 mil euros por ano, então amortiza cinco mil. Se não consegue cinco mil, então 2500 ou mil ou 500, mas tem de ter esse objetivo. Já disse isto várias vezes em episódios anteriores, mas cada euro que amortizamos é dinheiro que fica no nosso bolso e não no dos bancos. É um excelente objetivo financeiro.
A outra opção é investir esse dinheiro, desde que lhe renda juros superiores à TAEG que está a pagar no seu crédito à habitação. Para render juros em valores deste género, na maior parte dos casos terá de investir em produtos sem capital garantido. E todas essas informações que precisa de saber, como qual é a sua TAEG ou quanto tem ainda por pagar ao banco, tudo isso está no seu homebanking.
É muito interessante ler comentários, até de pessoas com salários mais baixos que 1300 euros, mas que têm foco e estão a conseguir fazer isto. E, mais uma vez, quando digo salários mais baixos que isto, não estou a falar no salário mínimo ou de casos particulares como famílias monoparentais, ou em que alguém esteja doente ou a cuidar de alguém doente. Essas são situações em que, obviamente, tudo isto é muito mais difícil.
Se verificar que não consegue ou que não quer tentar ter este objetivo, está o problema resolvido. Mas, por favor, fique feliz por outros estarem a conseguir e aproveite ao máximo para saber quais são as estratégias dessas pessoas. Porque com os bons exemplos dos outros, conseguimos obter o conhecimento para fazer igual ou melhor.
Falando por mim, quando vejo este tipo de exemplos, não procuro arranjar desculpas para mim próprio. Fico é curioso para saber qual foi a estratégia que os outros seguiram. Não adianta dizer que “só conseguiram porque”, não. Conseguiram e pronto e se conseguiram, deixa ver se eu também consigo, tendo em conta os meus rendimentos e as minhas circunstâncias. É fazer um esforço proporcional à minha situação.
Deixo-vos este desafio: vão ler os comentários, alguns deles pelo menos, e tentem aprender as lições com as três perspetivas. As dos que fizeram bem, as dos que comentaram negativamente e as dos que comentaram positivamente. Eu aprendi muito e acho que vocês também vão aprender com isso.
Eu aprendo mais com o sucesso dos outros do que com as desgraças dos outros e prefiro mil vezes aprender com quem fez e com quem sabe do que com quem falha, sendo que também podemos aprender muito com as falhas.
Muito obrigado por me ter acompanhado em mais uma boleia financeira. Este episódio foi mais motivacional do que propriamente de poupança, mas quero dizer-vos que eu estou a seguir este caminho. Eu quero acabar com o meu crédito à habitação 15 anos mais cedo para não estar a pagar a minha casa até aos 82 anos. Não vou deixar que isso aconteça e estou a tentar fazer o meu caminho, de forma equilibrada, e acho que estou a conseguir. Vou continuar a partilhar convosco a minha aventura.
Boas poupanças!
Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro
A partir dessas críticas, explico, neste episódio, qual deve ser a estratégia de amortização do crédito à habitação, seja qual for o seu rendimento, e a partir de que valores deve começar a pensar nisso como estratégia de vida financeira. E falo também sobre as diferenças salariais em Portugal: Será que ganha mais do que pensa que ganha? Ouça o episódio.
Ouça este episódio e tire as suas próprias conclusões. Boas poupanças!
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