Comprei mais 4 painéis solares para produzir eletricidade
No último balanço mensal da produção do meu único painel solar fotovoltaico anunciei que tinha uma grande novidade sobre os meus consumos de eletricidade: Comprei mais 4 painéis fotovoltaicos. E prometi que escreveria um artigo com todos os detalhes sobre este meu novo “investimento”.
Vamos lá então aos pormenores, que espero que vos ajudem a decidir se devem ou não “investir” também em produção de eletricidade para autoconsumo em tempo real.
Como repararam, escrevi “investir” entre aspas, porque continuo a receber muitas mensagens de pessoas que consideram que este dinheiro era muito melhor empregue num investimento em bolsa ou num produto financeiro.
Respondo sempre que uma coisa não impede a outra. Por exemplo, há muitas pessoas que NUNCA se atreverão a investir em produtos sem capital garantido. Neste caso específico não há nada mais garantido do que o sol. Em princípio ele ainda brilhará daqui a 20 anos, espero. Para além disso, a instalação de um painel solar permite uma poupança imediata na fatura de eletricidade logo desde o primeiro dia em que ele entra em funcionamento.
Como breve resumo, instalei o meu painel solar em dezembro de 2016. Já lá vão quase 5 anos. Gastei “chave na mão”, na altura, 620 euros. Como podem acompanhar pelo resumo mensal, já recuperei cerca de metade desse investimento. Ainda estou longe de ter lucro, mas tenho pago sempre cerca de 7 euros a menos por mês na minha fatura de eletricidade.
Felizmente, aqueles 620 euros nunca me fizeram falta, por isso não considero que seja um desperdício. Terá de avaliar se esta situação é confortável para si. “Perdi” 620 euros e passei a “ganhar” 7 euros por mês. Quanto lhe renderia um depósito a prazo de 620 euros por ano? Nem lhe vou responder para não nos rirmos.
Porquê mais painéis?
Creio que alguns de vocês ficaram surpreendidos com a minha decisão de instalar mais painéis porque sempre disse ao longo destes 5 anos que para os meus consumos, 1 painel é mais do que suficiente e mesmo assim ainda tinha algum desperdício. Isso continua a ser verdade.
Contudo, durante a pandemia e os dois confinamentos estivemos sempre 4 pessoas em casa e os consumos de eletricidade durante o dia dispararam e dei por mim a pensar que se tivesse mais painéis mesmo assim seriam poucos. Nessa altura, decidi que quando surgisse a oportunidade colocaria mais um painel. E comecei a pesquisar preços e a falar com os meus contactos para perceber qual seria a melhor opção para mim. Portanto, a intenção era comprar mais um painel e ficar com dois.
O meu primeiro painel produz no máximo 250 W e estava a pensar em colocar um segundo de 300 W ou mais para rentabilizar o espaço. Mesmo assim, ao fim de semana e em um ou dois dias por semana há pessoas em casa durante o dia, pelo que há sempre alguns consumos que poderiam ser cobertos caso tivesse mais painéis. Em todo o caso, os painéis ainda são caros e o retorno seria mais longo do que os 8 anos que estou a calcular.
A oportunidade dos 85% de reembolso do Fundo Ambiental
Eis senão quando, tenho conhecimento no fim do verão, de que a segunda fase do programa “Edifícios mais sustentáveis” do Fundo Ambiental já abrangia casas posteriores a 2006 (a minha casa é de 2007). Não me candidatei na fase 1 porque a licença de habitação tinha de ser anterior a 31 de dezembro de 2006. Não pude candidatar-me por um triz. Confesso que tinha desistido da ideia.
Ora, perante essa possibilidade, poderia instalar painéis solares com 85% de desconto (menos a parte do IVA). Isso mudou completamente a minha perspectiva. Eu estava disposto a comprar mais um painel solar com ou sem apoio. O meu orçamento era de 500 euros.
Com o reembolso do Fundo Ambiental, podia instalar 4 pelo preço de um.
Naturalmente, estou a partir do pressuposto de que a minha candidatura vai ser aceite (mesmo que não seja nesta fase) e que vou ser reembolsado. Mas tenho de ter consciência de que isso pode não acontecer.
Tenho duas “redes” de segurança: primeiro, li o Regulamento e sei que preencho todos os requisitos pedidos para que a minha candidatura seja formalmente aceite; e segundo, se a candidatura for aceite mas a verba acabar para a segunda fase, já garanti junto do Fundo Ambiental que quando for aberta a terceira fase, os que sobraram da segunda fase serão os primeiros a receber o reembolso com as verbas disponíveis.
O risco real que corro é que poderão passar muitos meses até receber o reembolso.
As contas – Quanto custaram os 4 painéis?
Como sabem, tenho convosco o compromisso de vos contar como as coisas são e não recebo um cêntimo para escrever uma letra que seja. Não faço publicidade a empresas nem é minha intenção aconselhar esta ou aquela. Partilho as minhas experiências enquanto cidadão e consumidor e vocês fazem o que quiserem com esta informação.
Há dezenas e dezenas de empresas que instalam painéis solares. Pela minha experiência as EDPs e GALPs e afins são as que têm os preços mais caros, mas transmitem a ideia da competência, responsabilidade e permitem pagamentos mensais e descontos na fatura de eletricidade e coisas do género. Tem de avaliar por si são uma boa opção para si. Tenho a ideia de que explicam as coisas com honestidade e que fazem um esforço para que toda a informação seja clara e objetiva. Em termos de garantias e contactos podem ter alguma vantagem por serem empresas muito grandes e com muitos recursos. Mas isso vale o que vale.
A minha pesquisa diz-me que os melhores preços estão nas empresas mais pequenas e com instaladores certificados que têm uma atuação local. Ou seja, a melhor empresa para si, provavelmente será aquela que tem sede no seu concelho ou no concelho ao lado. Vai ter de fazer essa pesquisa por si. Peça muitos orçamentos antes de avançar.
Por 4 painéis paguei cerca de 1.800 euros (tudo incluído, “chave na mão”), com material, micro-inversores, cabos, fichas, mão-de-obra, etc. Portanto, ficou cada painel em 450 euros, preço final, já com IVA e tudo. Como já sei que vão perguntar, foi na Eurosisnergia do Norte.
Sintam-se à vontade para partilhar nos comentários orçamentos e nomes de outras empresas que conheçam. A ideia é partilhar informação para fazermos escolhas inteligentes.
Pode usar este valor como referência para as suas pesquisas, mas não deve estranhar se encontrar mais caro. Cada orçamento é único. Não se esqueça de que eu já tinha um painel instalado, já tinha uma pré-instalação feita, o acesso ao telhado é muito fácil, já tinha um micro-inversor instalado que permitiu aproveitar essa capacidade para os novos, não precisou de levar estruturas de apoio, etc. Ah, e escolhi painéis menos potentes por uma relação qualidade/preço (280 W) porque tinham alguns painéis disponíveis com essas características. Mais potentes = mais caros.
Caso não tivesse a perspectiva do apoio do Fundo Ambiental, instalaria apenas um, mas por outro lado avisaram-me que a mão de obra para 1 ou para 4 seria quase a mesma coisa, logo apenas 1 painel não ficaria apenas em 450 euros. Leve isso também em conta. Para ter uma ideia, no meu caso, o valor da mão-de-obra foi quase o preço de um painel.
Feitas as contas (por antecipação), devo receber de reembolso cerca de 1.200 euros. Ou seja, ficam-me os 4 painéis por 250 euros + 400 euros de IVA (que não tem reembolso, porque os fundos da UE não permitem reembolsar impostos), num total de cerca de 650 euros. Em resumo, cada painel vai custar-me cerca de 150 euros.
Quando receber o reembolso (espero recebê-lo) farei as contas ao cêntimo para calcular a amortização a partir deste novo reinício. Se não receber, vou ter de fazer muitas contas outra vez e poderá não ser assim um negócio tão bom (ou mesmo mau). Cada coisa a seu tempo. Estou convencido de que fiz as coisas bem e planeadas.
E vender o desperdício à rede?
Sim, esse vai ser outro desafio. Assim que anunciei nas redes sociais que tinha instalado mais 4 painéis recebi dezenas de mensagens de muitos de vocês que já têm unidades maiores de produção para autoconsumo com muitas (mas mesmo muitas) queixas de que a e-Redes não está a fazer o que a legislação diz. O Net Metering de 15 minutos não está a funcionar, tiveram de pagar pela mudança de contador, o contador não envia as contagens automaticamente, a empresa de eletricidade não aceita o envio de contagens manuais, etc., etc., etc. Como só agora iniciei o processo e ainda não fiz o novo registo na DGEG (obrigatório a partir de 350 W) ainda não tenho essa experiência.
Contudo, assim que li as vossas queixas, fiz um breve resumo e já pedi um esclarecimento à e-redes sobre o que se está a passar, que problemas há e como se podem resolver. Aguardo resposta para avaliar se há tema para reportagem ou se há soluções mais simples. Um problema de cada vez. É que há já várias pessoas que me contactaram e que me dizem que já estão a vender eletricidade seguindo os passos todos. Referem sempre que é complicado, mas que conseguiram. Logo, tenho de perceber primeiro o que está a falhar neste processo. Preciso que me mantenham informado sobre os problemas que estão a ter e que o façam com o máximo detalhe possível para confrontar a e-redes e a ERSE eventualmente.
O meu próprio caso poderá servir de exemplo, mas para já vou esperar pelo reembolso do Fundo Ambiental antes de dar mais passos. Vou investigar qual é o prazo previsto para o registo na DGEG e vou informar-me se o meu contador precisa ser substituído ou não para não ser “enganado” caso me digam que tenho de pagar por um novo só porque aumentei a minha potência instalada. É que com o meu aparelho “EOT” o contador dá-me os parâmetros do Net Metering a cada 15 minutos. Até agora não me preocupei com esses dados porque como só tinha um painel de 250 W não estava elegível para o Net Metering. A seu tempo.
O desperdício vai passar a ser gigantesco
Esta é a minha primeira conclusão. A verdade é que deixei de gastar um cêntimo de eletricidade entre as 8h30 da manhã e as 17h30. Com um painel isso já acontecia na maior parte do tempo. A menos que alguém esteja em casa. Aí tenho uma poupança muito grande. O custo a pagar (enquanto não vender eletricidade à rede) é ter igualmente um enorme desperdício diário. Tudo o que os painéis produzem e não consumo naquele preciso instante, ofereço literalmente à rede elétrica nacional.
A minha estratégia vai ser usar ao máximo todos os eletrodomésticos durante as horas de sol para o desperdício ser o menor possível, de preferência um de cada vez. Uma das dicas que o instalador me deu foi ligar o ar condicionado durante o dia, quanto mais não seja para renovar o ar da casa. Fica grátis. Não prejudico em nada o ambiente. E estou a usar energias limpas e a manter os aparelhos em funcionamento. Parados também se estragam.
As minhas contas mensais a partir de agora serão bastante diferentes. Espero que continuem a acompanhar esta minha aventura com a mesma curiosidade que antes.
Abaixo tem a proporção de desperdício face a apenas 1 painel.
Alerto mais uma vez que se está à espera que eu chegue uma conclusão para você depois decidir o que fazer, andará sempre 10 anos atrasado. O segredo das poupanças e dos investimentos é agir, decidir, e arriscar também. E aprender com os erros. Ter alguém que ilumine o caminho é bom, mas quem tem de andar é você. Esta oportunidade do Fundo Ambiental não acontece muitas vezes. Quando abrir a terceira fase (esta segunda fase termina a 30 de novembro), espero que tenham tudo pronto caso decidam avançar. Façam as vossas contas. (ATUALIZAÇÃO: A segunda fase foi prolongada oficialmente até 31 de março de 2022).
E não me digam que não podem porque vivem num apartamento. Eu vivo num segundo andar. Quanto à parte financeira, sei que nem todos podem fazer isto, mas ao fim de contas é uma questão de opções na nossa vida, caso tenham a capacidade de poupar e investir os vossos recursos. Aí já depende de cada família, dos seus rendimentos e das suas prioridades. Há quem prefira comprar um telemóvel novo que custa o mesmo que um painel solar. São escolhas que se fazem.