PPR – Cuidado com algumas informações dos bancos
É a chamada dúvida metódica. Não estou a lançar uma suspeita generalizada sobre os bancos e seguradoras, quero apenas alertar que deve avaliar sempre se o que lhe estão a dizer/sugerir/”ordenar” é mesmo assim como dizem. No caso dos PPR deve, de forma especial, ter cuidado com o que contrata, com o que mantém e com o que reforça. Vamos a mais um caso em que se a cliente fizesse o que o banco/seguradora disse para fazer, perderia milhares de euros. Não fez, queixou-se e a seguradora voltou a trás.
Os PPR em Portugal
Mais de 1 milhão de portugueses têm um PPR. Têm nestes produtos cerca de 19 mil milhões de euros e o mais extraordinário é que, pelos cálculos da DECO, em média quem tem os tais PPR está a perder 790 euros por ano por cada 10.000 euros que lá têm. Eu diria por intuição (a DECO diz que são mais) que 90% ou mais dos portugueses estão a perder dinheiro (ou pelo menos a não ganhar) por terem escolhido mal o PPR. Farei brevemente uma nova reportagem sobre isto. É que há centenas de PPR diferentes e os que os bancos e seguradoras propõem aos clientes são quais? Os que lhe rendem mais a si? Não, o mais provável é que lhe proponham os que rendem mais a eles, certo? É que eles usam o seu dinheiro para ganhar dinheiro com ele.
Há mais de 700 PPR diferentes. Quem tem de escolher os mais rentaveis para si é você e não os bancos. É assim que funciona.
Disseram-lhe que estava descontinuado
Vamos então ao caso, para que saiba o que fazer se isto um dia acontecer consigo. A espectadora fez um PPR numa altura em que os PPR eram “bons”. O PPR que ela escolheu tinha um juro excelente e garantido. Ou seja, no mínimo recebia “x” de juros todos os anos, independentemente do desempenho das bolsas, e podia reforçar todos os anos até aos 60 anos. Ela todos os anos reforça tudo o que pode porque assim o dinheiro está a “trabalhar para ela”. Teve a “sorte” ou inteligência de perceber que era um bom produto financeiro quando o viu.
Acontece que as circunstâncias do mercado mudaram e agora o banco tem um problema nas mãos. Aquele PPR especificamente está a dar mais lucro à cliente do que ao banco. Então o que alguns bancos (neste caso é a seguradora de um banco) fazem assim que podem é descontinuar o produto. Ou seja, acabam com esse PPR e criam outro com outro nome e outras condições que lhes sejam obviamente mais rentáveis. Clientes novos já não podem contratar esse. Acho isto absolutamente normal. Se eu tiver um restaurante e tiver um prato que me dá prejuízo acabo com ele e passo a pôr no menu outro que me seja mais rentável. Nada contra.
O problema é que quando a cliente quis reforçar este ano o PPR como costuma fazer todos os anos, o banco respondeu-lhe que o PPR estava descontinuado e que se quisesse reforçar teria de ser num de outros 3 PPR que têm agora (naturalmente, que rendem MUITO menos). Têm abaixo os e-mails trocados com a instituição.
A cliente fez aquilo que qualquer um de nós deve fazer. Perante uma situação deste tipo a primeira coisa a fazer é ler o contrato e a ficha do produto que assinámos. Ora, nada dizia no contrato que havia exceções para reforçar o produto. O banco estava simplesmente a “atirar o barro à parede” a ver se os clientes deixam de reforçar um produto que já não lhes dá lucro. Se em 10, 2 caírem já não é mau. Se caírem todos ainda melhor.
A cliente respondeu por e-mail a dizer que não concordava e diz que não teve resposta. Então decidiu fazer queixa à Autoridade Reguladora dos Seguros e deu conhecimento disso ao banco.
Ela explicou que o contrato que assinou não refere a impossibilidade de fazer reforços e portanto não queria subscrever outros PPRs. E queria aproveitar os benefícios fiscais no IRS antes do fim do ano.
O PPR que ela subscreveu tem garantia de capital investido e 2,5% de taxa mínima garantida e dura até aos 60 anos (tem 45).
O banco estava a tentar que ela transferisse o capital para outro fundo. Mas os 3 PPR que propuseram não têm garantia de capital investido nem rendibilidade mínima garantida.
A resposta do banco
Perante a recusa da cliente e a queixa na ASF (Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões) o banco voltou atrás e afinal agora a cliente já podia reforçar o PPR e manter as condições. Como devia ser desde o princípio.
Em resumo, sempre que tiver um bom produto financeiro MANTENHA-O. Se o banco ou financeira/seguradora o tentar convencer de que o produto acabou, CONFIRME que essa possibilidade está escrita no seu contrato. Se estiver, não pode fazer nada. Se não estiver, bata o pé. Está no seu direito. Não tenha medo de defender os seus interesses. Apresente queixa em todo o lado. Não tem de fazer tudo o que lhe dizem que tem de fazer. Temos olhos para ler e cabeça para pensar.