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Portugueses poupam mal: depósitos e certificados não chegam para garantir a reforma

Acabámos de comemorar mais um Dia Mundial da Poupança, e os dados são claros e preocupantes. Portugal é hoje um país de poupadores conservadores, com rendimentos financeiros insuficientes para enfrentar o futuro. A maioria guarda o dinheiro em depósitos a prazo ou certificados de aforro — ambos com juros abaixo da inflação — e muito poucos investem. Resultado: o poder de compra de quem poupa continua a diminuir ano após ano. Temos de mudar isto.

Pedro Andersson

A poupança cresce, mas perde valor

Há dinheiro em Portugal, só que está nos sítios errados.

Segundo o Banco de Portugal, os depósitos bancários atingiram em agosto os 196,8 mil milhões de euros, o valor mais elevado de sempre. O problema é que os juros dos depósitos estão em queda há 20 meses consecutivos, fixando-se em 1,34%, o valor mais baixo desde abril de 2023.

Isto significa que, com uma inflação média de 2,4%, quem tem dinheiro no banco está a perder poder de compra todos os anos. Mesmo os certificados de aforro — que renderam mais e atraíram 38,5 mil milhões de euros até agosto — já não são uma "solução milagrosa".

A remuneração é variável e tem prémios de permanência, mas dificilmente supera a inflação a longo prazo. Em resumo: os portugueses estão a poupar, mas mal. A riqueza financeira cresce em valor nominal (em euros), mas empobrece em termos reais (compra cada vez menos coisas com o que tem).

O retrato atual da poupança em Portugal

Um estudo da TGM Research Institute, realizado para a corretora XTB citado pela LUSA, mostra que:

  • 32% dos portugueses consideram os depósitos bancários a melhor forma de aplicar dinheiro;
  • 24% preferem certificados de aforro;
  • Apenas 18% investem em corretoras ou produtos de mercado de capitais.

Os dados confirmam o conservadorismo financeiro nacional. Apesar de as alternativas existirem — PPR, fundos de investimento, ações ou ETFs — a maioria continua a privilegiar o capital garantido, mesmo que isso signifique perder rendimento real. É aqui que vemos a falta de literacia financeira dos portugueses.

Os portugueses poupam mais… mas muito menos do que no passado

De acordo com o Banco de Portugal, a taxa de poupança das famílias portuguesas é atualmente de 12,6% do rendimento disponível, o valor mais alto desde 2003. Mas estamos longe dos 31% registados em 1972, quando os portugueses poupavam quase um terço do que ganhavam.

Hoje, 72% dizem conseguir poupar algo todos os meses, mas:

  • 1 em cada 3 poupa apenas entre 5% e 10% do rendimento;
  • 16% conseguem poupar mais de 20%;
  • E apenas 1 em cada 6 poupa a pensar na reforma.

A maioria fá-lo para despesas inesperadas (37%) ou objetivos pessoais (36%). E você?

A Deco alerta: “Poupar para a reforma é cada vez mais urgente”

A Deco lembra que as pensões do futuro vão valer quase metade do que valem hoje. Segundo o Ageing Report 2024, a taxa de substituição — o valor da pensão em relação ao último salário — vai cair de 69,4% para 38,5% até 2050.

Ou seja, quem hoje ganha 1.500 euros, poderá ter uma pensão de apenas 580 euros dentro de 25 anos, se nada mudar.

A associação avisa que é preciso “reformar a forma como se pensa a reforma”. Poupar deve começar logo no primeiro emprego, com incentivos fiscais progressivos, produtos transparentes e literacia financeira acessível.

Pior ainda: as famílias reformadas portuguesas têm, em média, quatro créditos ativos, com prestações de 680 euros mensais, o que representa 60% do rendimento médio — muito acima do limite recomendado de 35%.

Chegar à reforma sem uma poupança substancial é uma verdadeira tragédia financeira.

A Europa já prepara alternativas — Portugal continua parado

Enquanto os portugueses mantêm o dinheiro em depósitos a prazo, a Comissão Europeia propõe novas contas de poupança-investimento, que permitam aplicar pequenas quantias nos mercados de capitais, com segurança e rendimentos superiores aos depósitos.

Estas contas ainda não existem em Portugal, mas poderão ser uma ferramenta útil para quem quer começar a investir sem precisar de grandes conhecimentos financeiros.

A inflação: o inimigo silencioso da poupança

Mesmo com a inflação a abrandar para 2,3% em outubro, segundo o INE, os juros dos depósitos continuam abaixo deste valor. Isso significa que a poupança está a render menos do que o aumento geral dos preços — e o dinheiro no banco vale menos a cada ano que passa.

Por exemplo: 10.000 euros parados num depósito a 1,3% durante um ano, com inflação a 2,3%, perdem 100 euros de poder de compra em 12 meses. E pensa que está a ganhar 1,3%. Temos de acordar para estas contas!

O que pode começar a fazer já

  1. Definir objetivos concretos — quanto quer ter quando se reformar e quanto tempo tem para lá chegar.
  2. Começar um PPR ou ETF — mesmo com pequenas quantias, para tirar partido dos juros compostos e dos incentivos fiscais.
  3. Diversificar — parte em produtos de capital garantido, parte em produtos com potencial de valorização.
  4. Rever os créditos — amortizar sempre que possível para libertar rendimento.
  5. Aumentar o rendimento real — investir em formação ou competências que permitam ganhar mais.
  6. Proteger o poder de compra — não deixar o dinheiro parado.

Quanto pode valer começar cedo: simulações práticas

Em 30 anos, a diferença entre poupar e investir é de quase 40.000 euros. A mesma quantia mensal — 50 euros — pode significar uma reforma tranquila ou anos de aperto. Faça as suas contas.





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