[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana.
[Ouvinte do podcast]
Tenho 80 mil euros parados. Gostaria de saber qual a melhor forma para investir esse dinheiro para daqui a 10 ou 15 anos ter algum retorno bom.
[Pedro Andersson]
Ora, pergunta simples, clara e rápida. Vou tentar responder da melhor forma que posso e sei. É esta pergunta que muitas pessoas fazem. Já sabem que há muitas pessoas para quem estes valores são completamente irrealistas porque têm fracos rendimentos e nem têm perspetivas de conseguir juntar 10 mil, 20 mil, 30 mil, 50 mil euros até a idade da reforma, quanto mais já ter, por exemplo, como neste caso, 80 mil euros.
Mas recordo que cada vez mais me têm aparecido perguntas de pessoas que, de um momento para o outro, simplesmente devido à venda de uma casa, de repente têm na conta à ordem 300 mil euros, 500 mil euros, 600 mil euros. É absolutamente extraordinário. Ainda há pouco tempo recebi uma dúvida de uma pessoa que me dizia que tinha 500 mil euros e não sabia o que havia de fazer com o dinheiro, mas falaremos desse caso noutro episódio.
Então, a pergunta é como investir 80 mil euros agora para ter um bom retorno daqui a 10 ou 15 anos. Como já sabem, e antes de mais quero agradecer a pergunta, obviamente esta pergunta não pode ser respondida de apenas uma maneira. Vai depender do seu perfil, porque há imensas alternativas para fazer crescer o seu dinheiro.
Nós é que nunca aprendemos quais são essas alternativas. Devido à nossa falta de literacia financeira, a única coisa que conhecemos são a conta à ordem e os depósitos a prazo e, eventualmente, os certificados de aforro. Para a maior parte das pessoas, isto agora entre aspas, “normais”, a opção é entre uma destas três. E qualquer uma destas três opções é absolutamente clara e não oferece nenhuma dúvida.
Se deixar na sua conta à ordem, vai ficar lá o mesmo dinheiro, está garantido até 100 mil euros. Portanto, já sabem que o fundo de garantia bancária funciona da seguinte maneira: até 100 mil euros, estão garantidos por titular e por banco, se tiver 300 mil euros, para garantir que não perde esse dinheiro, vai ter de pôr 100 mil euros num banco, 100 mil euros noutro banco e 100 mil euros noutro banco. Isto é básico. É algo que todos devíamos saber e se não sabe, ficou agora a saber.
Se tiver o seu dinheiro na conta à ordem, está garantido e daqui a 10, 15 anos vai ter lá na mesma o mesmo dinheiro, que será obviamente muito menos em termos reais devido à inflação, porque aquilo que compra com 80 mil euros hoje, daqui a 10 anos não vai conseguir comprar com o mesmo dinheiro. Por isso é que é importantíssimo nunca deixar o seu dinheiro parado numa conta à ordem ou numa ferramenta que rende zero ou próximo de zero.
No momento em que estou a gravar este episódio, a inflação em Portugal corresponde a 2,4%. O que quer dizer que, se o seu dinheiro não está a render 2,4% líquidos, após impostos, está a perder dinheiro para a inflação. Isto é gravíssimo e é uma tragédia na sociedade portuguesa.
Portanto, aquilo que sugiro a este nosso ouvinte é que, em primeiro lugar, perceba qual é o perfil que tem. Se o seu perfil é extremamente conservador e não quer arriscar um cêntimo que seja em produtos sem capital garantido, vai ter de escolher entre duas alternativas. Ou um depósito a prazo que renda mais do que 2%, e isso vai exigir abrir conta num banco que se calhar não conhece, um banco fora dos grandes em Portugal, daqueles mais pequeninos, e que tem a mesma garantia até 100 mil euros, e que por vezes dão 2,30, 2,50, 2,7, 2,8.
Pelo menos um ano, dois anos, está a render. Acaba esse um, dois anos ou três anos, deixa de ter esse juro, vai procurar outro banco que na altura esteja outra vez a render mais do que 2%. Menos de 2% está a perder dinheiro. Quer dizer, é completamente ridículo. Por favor, se tem depósitos a prazo e se não é penalizado por tirar o seu dinheiro antes do prazo, tire o seu dinheiro e ponha pelo menos, e essa é a segunda alternativa, em certificados de aforro, que, no momento em que estou a gravar, em agosto de 2025, estão a render quase 2%.
Já estiveram acima de 2%. Neste momento estão a 1,987%. E, portanto, passado um ano, passa a ter prémios de permanência, mais 0,25%. Portanto, passa a 2,25%. Passado mais algum tempo, passa a render a taxa base, que é a Euribor a 3 meses, mais 0,5%, depois sobe para 0,75% e assim sucessivamente.
Portanto, na média dos 15 anos, poderá ter um rendimento máximo de cerca de 3%, o que é o quê? Pode igualar ou até bater por umas pequeninas décimas a inflação, se ela se mantiver baixa. Portanto, estas são as opções com capital garantido.
Agora, se quiser realmente ganhar dinheiro com o seu dinheiro, e 80 mil euros é um valor relevante, meus amigos, vamos ter de arriscar um bocadinho, porque assim não há um melhor investimento. Depende do seu perfil de risco, dos seus objetivos, da sua tolerância às oscilações do valor do seu dinheiro, mas, por exemplo, se optar por um PPR, um Plano de Poupança Reforma, e se ainda estiver a alguns anos da reforma, e dependendo dos seus rendimentos, poderá ainda ter benefícios fiscais à entrada, ou seja, receber mais dinheiro no IRS por fazer um PPR. É uma opção.
Um PPR moderado ou dinâmico ou mais agressivo, ou seja, com uma maior percentagem de ações, pode permitir-lhe, pelo menos historicamente, um rendimento entre os 4% e os 6%, pelo menos entre os melhores PPRs em Portugal com este perfil. Ou seja, há anos que crescem mais do que isso e há anos que crescem menos e há anos até em que têm rendimento negativo.
Portanto, se lhe faz muita confusão ter lá 80 mil euros e daqui a um, dois ou três anos olhar para o saldo e ter lá 75 ou 60 ou 50 mil euros, então isto não é para si. É para si, se estiver disposto a assistir a isso e não fazer nada, porque passado um, dois ou três anos, em vez de 80 mil, vai lá ter 130 mil, 140 mil, 150 mil. E, portanto, quando atingir o valor que tem como objetivo, mesmo que não tenham passado ainda aos 15 anos, então resgata nessa altura.
Pode resgatar quando quiser. Se puser no IRS vai ter de devolver aquilo que recebeu, mais uma multa de 10% por cada ano que passou, mas se não puser no IRS pode levantar no dia a seguir, se assim o entender. Este detalhe é muito importante. Já vou fazer as contas, a quanto é que 80 mil euros podem render em cada um destes produtos.
A outra opção para perfis mais arriscados é, por exemplo, pôr em ETFs diversificados. O SP500, o MSCI World, o Nasdaq, o Dow Jones, enfim, tem vários, cada um tem o seu perfil específico, mas ao longo dos últimos 40 anos o retorno médio real tem andado por volta dos 6% a 8% ao ano. Mas lá está, sempre com esta ressalva. Há anos em que, por exemplo, estão negativos 20%, mas depois, no ano a seguir, recuperam esses 20% e ainda crescem mais 5% ou 10%. É isso que tem acontecido.
A minha aposta pessoal, em termos de finanças familiares e em termos de investimentos, é, sobretudo em ETFs, e tenho tido resultados muito razoáveis, mas lá está, quando caem não os retiro, não resgato, pelo contrário, ponho mais e assim ainda cresce mais depois no futuro quando recuperam. Essa é a minha estratégia, não tem de ser a sua. Cada um tem de pensar pela sua própria cabeça.
Outra opção é o imobiliário. Com 80 mil euros pode dar algum valor como entrada para uma casa e a seguir arrenda essa casa e o valor que recebe da renda é suficiente não só para pagar a prestação ao banco, como ainda para ganhar dinheiro todos os meses. Obviamente isto envolve riscos e outras despesas. Portanto, o segredo aqui é, sobretudo, a diversificação. Dependendo do seu perfil, como referi no início, isto são percentagens que pode alterar perfeitamente.
Mas imagine, por exemplo, pôr 20% desses 80 mil em produtos absolutamente garantidos, como os tais certificados de aforro ou depósitos a prazo. Pode pôr, por exemplo, 30% num PPR, pode pôr outros 30% em ETFs, sabendo o que está a fazer e com aconselhamento junto do banco. Não vá para as internets e para os Facebooks e para os Instagrams, porque há um perigo enorme de ser burlado.
Portanto, faça isto com instituições profissionais e registadas na CMVM e no Banco de Portugal. Outra percentagem, como lhe disse, pode ir para imobiliário se isso fizer sentido para si. Portanto, se o seu objetivo é ter um crescimento forte e aceitar ver oscilações pelo caminho, ETFs são uma boa opção. Se quiser um meio termo, pode ter uma parte em PPRs e outra parte em ETFs. Se a sua prioridade é a segurança absoluta, então aí depósitos a prazo ou certificados de aforro.
Então vamos aqui a alguns valores, porque não há nada melhor do que fazer contas. E por isso é que este projeto se chama Contas-poupança. Por exemplo, em certificados de aforro, ou num depósito que renda 2%, daqui a 15 anos, esses 80 mil euros podem dar-lhe um lucro de cerca de 30 e tal mil euros. Alguém pode dizer que isso é fantástico, mas não, isso simplesmente vai ajudá-lo a combater a inflação, ou seja, vai conseguir comprar as mesmas coisas que compraria agora com esse dinheiro, embora tenha lá 130 ou 140 mil, seja lá o que for, em vez dos 80 mil.
Um PPR moderado que cresça 5% daqui a 15 anos, poderá ter, poderá, sublinho, porque ninguém lhe pode garantir isto, mais de 150 mil euros. Portanto, pode duplicar praticamente o valor que lá tem. Agora, esses 80 mil podem transformar-se em 160 mil, um lucro de 86 mil euros. Se colocar esse dinheiro em ETFs globais que rendam 7%, ao fim de 15 anos poderá ter 220 mil euros. Ou seja, mais 140 mil euros.
Mais uma vez, não fique já absolutamente entusiasmado com estes valores. Ninguém lhe garante que isto vá acontecer. Mas, historicamente, com base nos valores do passado, era o que aconteceria se tivesse feito isso há 15 anos. Se em 2010 tivesse colocado 80 mil euros num ETF que acabou por render 7%, como tem acontecido, hoje, em 2025, teria lá 220 mil euros. Isto dá que pensar.
Em comparação com os certificados, teria lá um lucro em 15 anos de 35 mil euros. Não sendo mau, é melhor do que nada, como é óbvio, mas teria apenas o equivalente ao que perdeu para a inflação.
Portanto, em resumo, espero que estas contas o tenham ajudado a pensar no que tem de decidir, porque nada disto é uma regra. E o meu conselho a si, que fez a pergunta, e a todos vocês, é que não ponham os ovos todos no mesmo cesto. Não sejam nem demasiado conservadores, nem arrisquem demasiado. Arrisquem apenas aquilo que estão dispostos a perder.
Se fizerem isto, a coisa não deve correr demasiado mal e correm o risco de correr bem. Não considerem isto nenhuma lei, nem nenhuma regra, nem há nenhuma garantia de que corra assim, mas é importante saber que quem fez isto no passado obteve estes resultados ou semelhantes. E é muito importante aumentarmos a nossa literacia financeira, sobretudo para perdermos o medo de obter conhecimento.
Não se esqueçam de enviar as vossas perguntas em áudio para o número do WhatsApp do Contas-poupança, que é o 92 775 37 37. Não há dúvidas demasiado básicas, porque aquilo que não sabe, provavelmente, é aquilo que milhares de outras pessoas também não sabem. E o nosso objetivo é sabermos um pouco mais para tomarmos sempre as melhores decisões.
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