[Introdução - Pedro Andersson]
Olá! Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp 92 775 37 37. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana.
[Ouvinte do podcast]
Olá, Pedro. Sou seu ouvinte há muito tempo e espero que esteja tudo bem consigo e com a sua família. Quero aproveitar a oportunidade para partilhar um dilema que me surgiu e que acredito que poderá interessar a muitos ouvintes na mesma situação.
Tenho um crédito à habitação de cerca de 55 mil euros e, numa recente avaliação para transferência do crédito, o meu imóvel foi avaliado acima de 150 mil euros. O banco novo para o qual transferi o crédito perguntou-me, no início do processo, se queria apenas o montante em dívida na altura da transferência ou se pretendia aproveitar para pedir mais valor, julgo que até 80% do valor de avaliação.
Na altura optei por cobrir apenas a dívida existente. De referir que o banco assumiu todos os custos de transferência e foi incluído na negociação spread zero durante os dois primeiros anos e 0,7% após este período. Aqui é que entra o que me veio à ideia já o processo estava terminado, mas que poderei ponderar novamente dentro de algum tempo se fizer efetivamente sentido o cenário que partilho de seguida.
E se em vez de transferir apenas o montante em dívida tivesse pedido mais, digamos, 70 mil euros, e investido esses fundos num ETF, por exemplo o SXR8, que regista historicamente um retorno líquido médio anual de cerca de 7%?
De acordo com a minha análise e com o que sei atualmente, num horizonte de 10 anos, mantendo este retorno médio, conseguiria duplicar o capital investido que, assumindo os 70 mil euros de reforço que pedia ao banco, daria à volta de 140 mil euros. Ou seja, conseguiria, em 10 anos, ter o montante necessário para amortizar todo o valor do crédito que esteja em falta, isto é, os 55 atuais mais os 70 de reforço, menos o que for pago mensalmente, compensar os juros que paguei ao banco durante estes 10 anos e ainda me sobrava dinheiro.
Ou posso simplesmente optar por pagar o crédito mensalmente no prazo que resta e deixar o investimento crescer como se fosse o nosso pé-de-meia para a reforma e, dentro de alguns anos, começar a mobilizar para algo menos arriscado, como obrigações.
Em suma, o meu objetivo com este cenário é perceber se consigo utilizar uma taxa de juros relativamente baixa, o crédito de habitação, para alavancar um montante que considero significativo e obter um retorno potencialmente superior, considerando o comportamento histórico do mercado e o risco envolvido. Finalizo agradecendo-lhe o excelente trabalho que faz. Como referi, sou ouvinte há vários anos e reconheço muitas vezes que a ignorância, de facto, é a nossa maior inimiga. Um grande abraço e continuação de bom trabalho.
[Pedro Andersson]
Olá! Muito obrigado pela pergunta. Fico maravilhado com a evolução do conteúdo das vossas dúvidas, porque diria que há dois, três anos para trás jamais esperaria que alguém me fizesse uma pergunta como essa que acabou de fazer. Alguém que fala em ETFs, que fala em alavancar investimentos, alguém que pensa no futuro e passar de investimentos de alto risco para investimentos de baixo risco, como as obrigações. Fico deveras maravilhado com esta evolução por parte de tantos de vocês.
Ora, respondendo então à sua pergunta, aquilo que no fundo está a propor e que está a pensar de uma forma muito inteligente chama-se alavancar investimentos. Ou seja, utilizar crédito para ganhar dinheiro com esse dinheiro que lhe emprestaram. Pedir dinheiro emprestado para investir.
Como sempre, vou dar a minha opinião que, como bem sabem, não é lei nem nada que se pareça, é apenas a minha opinião, mas depois cada um decide como entender. Sou frontalmente contra pedir crédito para investimentos sem capital garantido. Há aqui uma exceção que é pedir créditos para investir em imobiliário. Isso é diferente, mas também exige outros conhecimentos.
Quero partilhar convosco que a única vez que perdi dinheiro a sério foi por ter utilizado essa tal alavancagem para investir, ou seja, na ânsia de ganhar mais dinheiro, pedi emprestado para poder multiplicar o investimento. Houve uma queda muito grande e acabei por perder rigorosamente tudo o que investi naquela ferramenta. Neste caso específico, para não deixar aqui nenhuma dúvida, foram em CFDs. Portanto, nunca mais investi em CFDs.
E aconselho vivamente que qualquer pessoa com pouca experiência não se meta nesse tipo de ferramenta financeira. Tem alguma coisa de ilegal? Não, não tem. Mas exige conhecimentos aprofundados e dinheiro que possa perder sem lhe tirar o sono.
Neste caso, o ouvinte não estava a falar de CFD, mas estava a falar em pedir crédito, pagando juros, e eventualmente até associados à Euribor, portanto, a um indexante móvel que sobe e que desce. Ora, não é controlável. E se não dá para controlar essa taxa de juro, corre riscos imensos em relação ao seu investimento. É para isto que o quero alertar.
Pode fazer isso que mencionou? Claro que sim. Pode e até pode correr bem. Até pode acontecer exatamente tudo aquilo que referiu e que é a sua expectativa. Mas, por outro lado, acho que me cabe a responsabilidade de lhe dizer que também pode acontecer tudo ao contrário.
E porquê? Porque a vida dá muitas voltas e a Euribor pode, de repente, disparar novamente para 5% como aconteceu recentemente, o spread da sua prestação ao banco pode subir de uma forma desmesurada para a sua realidade financeira, que agora até pode ser boa, mas na altura, se acontecer, pode destruir completamente as suas finanças. E pode perder mais dinheiro do que aquele que está agora na expectativa de ganhar.
Portanto, em resumo, na minha opinião, nunca, em nenhuma circunstância, deve pedir dinheiro emprestado ou fazer créditos bancários com juros para investir em ferramentas financeiras mobiliárias. Pedir um crédito para comprar uma segunda casa para arrendar, para vender a seguir, para fazer um alojamento local, isso são outros 500.
Agora, para investir na bolsa, meus amigos, pessoalmente não faço e não aconselho a fazer, porque são demasiadas variáveis e demasiado repentinas para achar que controlamos a situação. E até pode estar tudo a correr bem e depois pode tudo correr mal. Não sabemos. Portanto, só deve investir dinheiro seu e que não lhe faça falta para nada urgente, para nada que vá precisar nos próximos três a cinco anos.
E mesmo após cinco anos já sabe que tem o risco de as coisas não correrem bem. Portanto, é só o mesmo dinheiro que esteja disposto a investir e só depois de ter o seu fundo de emergência completo para poder respirar fundo e sem stress, se acontecer de facto alguma emergência na sua vida.
Espero ter respondido à sua pergunta. Provavelmente não é a resposta que gostava de ouvir, mas se tem esse perfil completamente agressivo para os investimentos, deve fazer aquilo que achar que é melhor para si. E daqui a 10 anos me mande uma mensagem a dizer que seguiu em frente e que afinal correu bem. Ficaria feliz se isso acontecesse, mas como disse, eu não o faria.
Já agora, uma última observação. Ainda é muito novo, portanto, se isto for confortável para si, siga o caminho clássico e veja se resulta. E à medida que for vendo os resultados, que não serão imediatos, talvez possa fazer aquilo que está a pensar agora. Se quiser arriscar, força, mas consciente dos riscos.
Muito obrigado por me ter acompanhado em mais uma boleia financeira. É um prazer saber que estão desse lado. Não se esqueça de enviar as suas perguntas em áudio para o 92 775 37 37.
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