PPR vs. ETF: Qual é melhor para investir a longo prazo?
Este “estudo” mensal compara 3 dos meus PPR com 2 dos ETF mais representativos (SP500 e All-World), que também tenho. Os 5 foram subscritos sensivelmente na mesma data (Julho de 2021), com o mesmo valor (1.000 euros) e são uma escolha que tentei ser variada (o critério dos PPR é um ser 100% ações, outro 65% ações e o terceiro ter a particularidade de ser composto exclusivamente por ETF). Não se trata de tentar “vender” nenhum PPR ou ETF. É dinheiro meu, real.
Nestes balanços, faço o comparativo entre os meus ETF e o PPR “Save & Grow” da Casa de Investimentos, o PPR SGF STOIK e o SGF PPR ETF. Acho que são amostras adequadas para o que nos interessa no mercado português.
Em Novembro de 2023 (dois anos depois dos outros dois PPR) surgiu no mercado português um novo tipo de PPR: um PPR feito de ETFs (da Golden SGF). Teoricamente, é o melhor dos dois mundos (a rentabilidade dos ETF e a fiscalidade dos PPR na altura do resgate). Quis testar imediatamente.
Porquê comparar o que não é comparável
Esta é uma das críticas que mais vezes me fazem: estou a comparar alhos com bogalhos. Uma coisa são os ETF, outra são os PPR, e mesmo dentro dos PPR, cada um tem uma filosofia diferente.
Os ETF normalmente não têm ninguém a geri-los. Os PPR têm gestores a pensar neles a cada momento (e recebem comissões por isso) e tentam proteger ao máximo os seus clientes, de acordo com os seus perfis. Por exemplo, os ETF que escolhi são 100% ações e o PPR STOIK só tem até um máximo de 75% de ações, o que quer dizer que faz parte da sua estratégia não “querer” crescer tanto como um ETF, mas também só arrisca ter perdas máximas a rondar os 20 ou 30%. Os ETF podem passar por tragédias como ter quebras de 50, 60, 70 ou até 90% como na Grande Depressão nos anos 20 do século passado.
Também, após 8 anos, a fiscalidade é muito diferente. Os PPR só pagam 8% dos lucros ao Estado, enquanto os ETF pagam agora 19,6% (após 8 anos).
Os responsáveis pelos PPR criticam (e bem) estas minhas contas, porque – justificam – não se pode comparar com justiça coisas que são diferentes. Percebo este ponto de vista.
A minha justificação é a seguinte: como mais ninguém faz isto em Portugal, quero comparar coisas que não são comparáveis nas características, mas comparáveis no rendimento. Quero saber, com 1.000 euros “verdadeiros”, o que valoriza ou não cada um dos produtos, justamente apesar das características diferentes.
Se tiver 1.000 euros para investir, quero saber (com riscos, características, fiscalidade e regras diferentes), quanto e como cada um deles evolui – positiva ou negativamente – diante das mesmas circunstâncias.
Como não tenho nenhum objetivo escondido por trás dos meus comparativos, sinto-me completamente livre para fazer estas comparações. Não tenho nenhuma intenção de prejudicar ou beneficiar o PPR da Casa de Investimentos, o PPR STOIK, o PPR ETF, o SP500 ou Vanguard FTSE All-World (VWCE) e qualquer um dos mais de 20 produtos financeiros que tenho.
Comparo também todos os meus PPR com os Certificados de Aforro. É outra comparação que não faz sentido na teoria, mas que faz todo o sentido para mim. Imaginem que daqui a 15 anos chego à conclusão que afinal os produtos com capital garantido é que valiam a pena no período que considerei… Isso dar-lhe-ia que pensar, e a mim também. Portanto, decidi ter cada um dos vários produtos, diversificando bastante as minhas poupanças e investimentos.
Mas só posso chegar às conclusões que pretendo, se comparar coisas diferentes. Porque essa é justamente aquela que considero a minha missão: contribuir para a literacia financeira dos portugueses. Experimentar tudo, ver como corre e contar o que aconteceu com isenção e rigor. Nunca ninguém fez isso por mim.
Pela lógica, eu só poderia comparar produtos de capital garantido com produtos com capital garantido. E o mesmo com produtos da mesma categoria: ações com ações, fundos de investimento com fundos de investimento, ETF com ETF, Certificados de Aforro com Certificados do Tesouro. Quero e comparo todos com todos. Faço-o com toda a clareza e isenção e se identificarem algum erro na análise, avisem por favor para o corrigir.
PPR E ETF são investimentos a longo prazo
Deve compreender que todos os investimentos referidos (ETF SP500 e ETF All World e os PPR) devem ser encarados a MUITO longo prazo (8 anos ou muito mais, décadas até) para termos uma ideia da tendência real. Já lhe expliquei que estes dados que lhe estou a transmitir são apenas retratos temporais, sem nenhuma análise técnica ou formal.
O facto de um determinado PPR não valorizar tanto quanto um ETF, não tem nada de mal, nem faz dele um produto “pior”. Simplesmente poderá render menos porque tem um cuidado consciente e permanente para que esses clientes tenham uma “rede” de segurança maior nos momentos difíceis do mercado. Esse cuidado paga-se com uma eventual rentabilidade menor.
O meu objetivo é fazer uma “corrida” entre os PPR e os ETF em tempo real, em simultâneo, exatamente nas mesmas condições históricas e cronológicas. Subscrevi todos propositadamente ao mesmo tempo, para tirar as minhas dúvidas.
O balanço de junho de 2025
Fiz um quadro comparativo com os valores de crescimento (em percentagem) nos últimos meses. Como pode observar abaixo, em maio, os ETF continuaram a ser - de longe - os produtos com melhor rentabilidade. Com o início da guerra comercial de Trump com o mundo, todas as bolsas se ressentiram. As quedas podem ser assustadoras para quem tem pouca literacia financeira, mas são normais neste percurso. Neste momento, já estão a recuperar.
Devo alertar também que estou a comparar 5 produtos específicos. Logo, não se trata “dos PPR”, porque comparo apenas três com uma forte carga de ações (dois com 100% e outro atualmente com 60%), com dois ETF de corretoras específicas que podem ter ligeiras diferenças de comissões de gestão e políticas de formação do índice, relativamente aos mesmos ETF de outras corretoras. Seja como for, creio que ficará – como eu – com uma ideia bem concreta da comparação em tempo real dos dois tipos de produtos financeiros.
Estes são os valores que receberia hoje, líquidos de impostos, em cada um dos produtos.
Uma nota para quem não percebe nada disto: no quadro anterior, as mais-valias são o que ganharia naquele dia se resgatasse a totalidade do investimento. Não acumula de mês para mês nem de ano para ano. É o valor que o PPR ou ETF tiver naquele dia específico.
O que é um ETF e porquê comparar com um PPR?
ETF, também conhecido como tracker, significa Exchange Traded Fund (fundo de índices cotados). É um produto que segue um índice, mercadoria (o nome pode mudar para ETC), obrigação ou composição de produtos. É, no fundo, uma cesta de títulos cotados em bolsa, mas que não tem de comprar nem vender individualmente. Em vez de comprar legumes um a um, compra um cabaz por um preço médio. No caso dos legumes, é para fazer uma sopa; no caso dos ETF é para os guardar e esperar que valorizem com o tempo (como se fossem peças de coleção ou um vinho que valoriza com o tempo).
Quanto aos PPR, creio que já todos ouvimos falar deles pelos benefícios fiscais ou porque fomos “obrigados” pelo banco para nos baixar o “spread” do crédito à habitação. Há os seguros PPR (que não rendem quase nada, têm comissões altas e capital garantido) e os fundos PPR (que podem render muito mais, mas não têm capital garantido).
Os fundos PPR refletem ao longo do tempo o que se passa nas bolsas, nas ações, índices e obrigações que compõem cada PPR. Paga uma comissão de gestão a quem gere esses PPR, que vão alterando a composição do fundo PPR ao longo do tempo.
Por outro lado, os ETF são uma “média” do que acontece numa bolsa, setores de atividade, países, regiões, etc. Ninguém gere nada e é o “espelho” quase exato do que acontecer nas bolsas.
Imagine um gráfico com o preço médio da batata em Portugal. Hoje o gráfico diz que o preço médio da batata é 1 euro. Você compra 500 euros do índice do preço médio da batata, a 1 euro cada unidade desse índice. Se daqui a 3 anos o preço médio da batata subiu para 1,50 €, os seus 500 euros transformaram-se em 750 euros (500 X1,5 €). Se o preço médio da batata desceu para 80 cêntimos, e resgatar nesse dia, só receberá 400 euros. Percebeu o exemplo? Você não comprou batatas, comprou unidades de participação de preços médios da batata.
Subscrevem-se em corretoras ou bancos. As comissões desses índices são muito pequenas ou até inexistentes. No dia em que resgatar, paga sobre as mais-valias 19,6% (após 8 anos), no IRS do ano seguinte.
Leia mais: Como escolhi os meus ETF e PPR
Uns acham que os PPR mesmo que ganhem menos ao longo do tempo, compensam no final porque pagam muito menos imposto.
Outros acham que historicamente compensam mais os ETF porque como ninguém anda a comprar e a vender são cometidos menos erros de gestão e como as comissões são baixíssimas, no final o que crescem a mais compensa a fiscalidade mais vantajosa dos PPR.
Para quem perguntar, subscrevo os ETF desta comparação na plataforma digital Degiro. Digo-o por uma questão de transparência (não ganho nada com isto). Também tenho outros ETF noutras instituições.
Tem aqui também a identificação deles (com o “cartão de cidadão” de cada um deles, o chamado ISIN).
- iShares Core S&P 500 UCITS ETF USD (Acc) IE00B5BMR087
(Cerca de 500 euros por unidade)
- Vanguard FTSE All-World UCITS ETF USD Acc | IE00BK5BQT80
(Cerca de 132 euros por Unidade)
Gráfico do que cresceu desde o “fundo” da Covid-19.
Não considere estes artigos conselhos de investimento. Você tem de investigar por si e analisar cada um dos produtos que lhe interessar. Há centenas de PPR e ETF. Estes foram os que me deram “jeito” investir no momento em que o fiz. O meu objetivo é puramente pedagógico. Nem quero ter a responsabilidade de alguém dizer que eu é que disse que estes eram bons ou maus. Tem de pensar pela sua própria cabeça.
Neste gráfico tem a evolução do que cada um está a render com o valor correspondente numa carteira de 1.000 euros.
Para já, olhando para os números, decorridos 46 meses, e apesar das quedas, o SP500 continua à frente, juntamente com o ETF All World, com os PPR a alguma distância. O gráfico abaixo já tem as mais-valias líquidas de imposto, com o pressuposto de que os PPR já teriam 8 anos e que só pagaria 8% em vez dos 19,6% dos ETF.
Para mim, está a ser interessante acompanhar esta corrida. A minha intuição diz-me que o ideal é ter os dois: resgato aquele que me interessar mais, na altura em que precisar. Ter várias escolhas é a melhor estratégia.
O outro ponto que quero sublinhar é que enquanto me vê a fazer esta “corrida”, você não está a correr. Só está na bancada. Na bancada ninguém ganha dinheiro. É verdade que não perde, mas também não ganha.