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RAIZE | Mudaram as regras a meio do jogo. Ainda vale a pena investir na Raize?

A Raize vai passar a cobrar comissões sobre os juros Todos fomos apanhados de surpresa. A Raize mandou um e-mail aos investidores com as alterações ao preçário (pode lê-lo aqui). Este artigo acaba por ser mais para quem tem dinheiro investido na Raize do que para os outros, mas em todo o caso fica a […]

A Raize vai passar a cobrar comissões sobre os juros

Todos fomos apanhados de surpresa. A Raize mandou um e-mail aos investidores com as alterações ao preçário (pode lê-lo aqui).

Este artigo acaba por ser mais para quem tem dinheiro investido na Raize do que para os outros, mas em todo o caso fica a perceber como funcionam ou que problemas podem surgir em algumas destas plataformas. Falei com um dos administradores da Raize e partilho convosco o que me explicou. Depois tirará as suas conclusões. Já lá vamos.

Pode ler ou reler aqui o artigo escrito em Setembro em que fazia apesar de tudo um balanço positivo dos meus investimentos na Raize, e onde explico que é a Raize.

As alterações entraram em vigor a 15 de Novembro e basicamente implicam passar a pagar à Raize uma comissão de 10 ou 12% sobre todos os juros que o investidor recebe todos os meses, caso não preencha os requisitos definidos pela plataforma. A somar aos 28% de taxa liberatória para o Estado.

Não vou entrar em detalhes sobre cada uma das opções porque basta olhar para o preçário.

Até ao momento tenho sido um “simpatizante” da Raize. Tenho quase 200 empréstimos a pequenas e médias empresas. Não é um valor grande, mas numa estratégia de diversificação da minha carteira de investimentos tem sido um investimento “agradável”, com juros a rondar os 5% sem grande trabalho, nem grande acompanhamento.

A Covid veio atrapalhar enormemente o tipo de negócio, que é apoiar e financiar micro, pequenas e médias empresas. Já tenho alguns casos de créditos irrecuperáveis.

Claro que nada disso me surpreende e até já estava à espera. É um investimento de risco e o valor que me pagavam compensava o risco (e a realidade) de alguns desses créditos não correrem bem.

Apesar de atrasos nos pagamentos e desses casos de incumprimento definitivo, ainda me compensava contribuir (e ser pago) para o financiamento de empresas nacionais mais pequenas. Confesso que ainda hoje acho “piada” ao projeto.

Mudança de regras a meio do jogo

Acontece que, de um dia para o outro, a Raize decidiu começar a cobrar uma comissão de 10% (arredondemos) sobre os lucros nas condições definidas, aplicando esse valor sobre os créditos antigos e não apenas sobre os próximos. Não foi isso o combinado. E sinto-me prejudicado com essa decisão.

Como fiz uma reportagem para o Contas-poupança sobre a Raize e tenho falado deles em workshops e ações de formação como um exemplo de investimento alternativo, sinto-me igualmente com a responsabilidade de falar sobre este tema.

No entanto, para o fazer de uma forma equilibrada quis falar primeiro com os responsáveis da plataforma para tentar perceber o contexto.

Numa longa conversa com um dos administradores, foi-me explicado que a Covid veio alterar completamente o modelo de financiamento da plataforma. 

Por exemplo, com custos quase zero nos créditos dos bancos, deixaram praticamente de ter interessados em fazer créditos com 5, 6 ou 7%. As empresas quase deixaram de procurar a Raize. Isso foi uma dificuldade importante.

Por outro lado, o facto de estarem na Bolsa de Valores, obriga-os a custos muito grandes para cumprirem todas as regras e condições impostas pelos reguladores. E o dinheiro não estava a chegar para rentabilizar o negócio.

A decisão, pelo que me explicaram, não foi fácil, mas criar esta taxa junto dos investidores foi a única maneira que encontraram para manter a plataforma sustentável. A outra opção era fechar a plataforma.

De acordo com a Raize, as condições de mercado evoluíram e tiveram de ser adaptar ao contexto. Na opinião deles, os investidores ganham um bocadinho menos mas continuam a ganhar (e mais do que nos depósitos a prazo). Traduzindo, é uma espécie de dividir o mal pelas aldeias (esta expressão é minha).
 
 
Foi mesmo uma questão – dizem – de sustentabilidade da Raize. Querem continuar em Portugal e a apoiar a economia nacional. Durante a pandemia, perderam empresas e investidores e a situação tornou-se insustentável. A Raize não consegue competir com linhas de crédito dos bancos de 1 e 2%.
 
Curiosamente, disseram-me que foram poucos os investidores que saíram de facto da plataforma. Muitos investidores continuam a fazer carregamentos e continuam com o tracker ativado para fazer novos empréstimos.
 
Reconhecem que a confiança de muitos investidores foi afetada, mas consideram que têm condições para continuar, agora com um maior aperto nas condições de concessão de crédito porque muitas destas empresas não vão resistir à crise provocada pela pandemia.
 

O que vou fazer

Como sabem, neste blogue transmito apenas as minhas opiniões pessoais e as minhas experiências financeiras enquanto consumidor e cidadão. Nesse sentido, e compreendendo a posição da Raize, não posso deixar de referir que a minha confiança neles foi abalada. Na minha avaliação, o risco de incumprimento não compensa os juros líquidos que poderei receber. Tenho alternativas igualmente arriscadas (ou menos) que me rendem mais.
 
Assim, vou manter o tracker desativado (como está desde o início da pandemia) e vou deixar os contratos chegarem lentamente ao seu fim ao longo dos próximos 2 ou 3 anos. Não estou na disposição de perder dinheiro vendendo os créditos (cessões) que tenho, com prejuízo. Simplesmente, vou aceitar ganhar menos mas mesmo assim ganhar alguma coisa.
 
Vou reclamar formalmente junto dos supervisores? Não. Mas respeito e acompanharei à distância quem o fez ou fará. Neste caso muito específico, não concordando, aceitei as explicações como razoáveis, tendo em conta a pandemia que estamos a atravessar. É uma decisão minha. Aceito e até recomendo que haja opiniões diferentes. 
 
 

O que é que isto me ensinou?

Aprendi que em qualquer investimento as circunstâncias podem mudar de um momento para o outro e que temos de estar (psicologicamente e financeiramente) preparados para isso.
 
Confirmei a importância de diversificar os meus investimentos: se tivesse posto tudo ou uma grande parte na Raize agora estaria muito insatisfeito. Se no final de tudo isto vier a perder dinheiro, encararei issso com toda a normalidade. Sei que isso pode acontecer desde o princípio. 
 
Aprendi que devo estar permanentemente atento ao desempenho de cada parcela da minha carteira e devo mexer nela sempre que entender que é o melhor para mim. Tirar de um lado e pôr no outro pode ser a melhor decisão em algumas alturas.
 
Em resumo, continuo a achar “piada” ao projeto da Raize, compreendo que não tinham muitas alternativas, e critico a forma como comunicaram o “problema”, como tive a oportunidade de o dizer pessoalmente. Vou manter o que tenho, mas não conto reforçar os meus investimentos nela num futuro próximo. A menos que as condições voltem ao que eram antes. Mas mesmo assim, perdi a confiança enquanto investidor. Estas alterações podiam, na minha opinião, ter sido feitas de outra maneira.
 
Agora cada um fará a avaliação que entender. Há pessoas que decidiram investir em força comprando as cessões dos que querem sair. Não duvido que pode vir a revelar-se um bom negócio. As vendas de uns normalmente são os lucros de outros. Vamos ver.
 
 


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