A Raize vai passar a cobrar comissões sobre os juros
Todos fomos apanhados de surpresa. A Raize mandou um e-mail aos investidores com as alterações ao preçário (pode lê-lo aqui).
Este artigo acaba por ser mais para quem tem dinheiro investido na Raize do que para os outros, mas em todo o caso fica a perceber como funcionam ou que problemas podem surgir em algumas destas plataformas. Falei com um dos administradores da Raize e partilho convosco o que me explicou. Depois tirará as suas conclusões. Já lá vamos.
As alterações entraram em vigor a 15 de Novembro e basicamente implicam passar a pagar à Raize uma comissão de 10 ou 12% sobre todos os juros que o investidor recebe todos os meses, caso não preencha os requisitos definidos pela plataforma. A somar aos 28% de taxa liberatória para o Estado.
Não vou entrar em detalhes sobre cada uma das opções porque basta olhar para o preçário.
Até ao momento tenho sido um “simpatizante” da Raize. Tenho quase 200 empréstimos a pequenas e médias empresas. Não é um valor grande, mas numa estratégia de diversificação da minha carteira de investimentos tem sido um investimento “agradável”, com juros a rondar os 5% sem grande trabalho, nem grande acompanhamento.
A Covid veio atrapalhar enormemente o tipo de negócio, que é apoiar e financiar micro, pequenas e médias empresas. Já tenho alguns casos de créditos irrecuperáveis.
Claro que nada disso me surpreende e até já estava à espera. É um investimento de risco e o valor que me pagavam compensava o risco (e a realidade) de alguns desses créditos não correrem bem.
Apesar de atrasos nos pagamentos e desses casos de incumprimento definitivo, ainda me compensava contribuir (e ser pago) para o financiamento de empresas nacionais mais pequenas. Confesso que ainda hoje acho “piada” ao projeto.
Mudança de regras a meio do jogo
Acontece que, de um dia para o outro, a Raize decidiu começar a cobrar uma comissão de 10% (arredondemos) sobre os lucros nas condições definidas, aplicando esse valor sobre os créditos antigos e não apenas sobre os próximos. Não foi isso o combinado. E sinto-me prejudicado com essa decisão.
Como fiz uma reportagem para o Contas-poupança sobre a Raize e tenho falado deles em workshops e ações de formação como um exemplo de investimento alternativo, sinto-me igualmente com a responsabilidade de falar sobre este tema.
No entanto, para o fazer de uma forma equilibrada quis falar primeiro com os responsáveis da plataforma para tentar perceber o contexto.
Numa longa conversa com um dos administradores, foi-me explicado que a Covid veio alterar completamente o modelo de financiamento da plataforma.
Por exemplo, com custos quase zero nos créditos dos bancos, deixaram praticamente de ter interessados em fazer créditos com 5, 6 ou 7%. As empresas quase deixaram de procurar a Raize. Isso foi uma dificuldade importante.
Por outro lado, o facto de estarem na Bolsa de Valores, obriga-os a custos muito grandes para cumprirem todas as regras e condições impostas pelos reguladores. E o dinheiro não estava a chegar para rentabilizar o negócio.
A decisão, pelo que me explicaram, não foi fácil, mas criar esta taxa junto dos investidores foi a única maneira que encontraram para manter a plataforma sustentável. A outra opção era fechar a plataforma.