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Garantia pública para jovens comprarem casa vale a pena?

Já está em vigor a “Garantia pública” que vai permitir aos jovens até aos 35 anos ter acesso a 100% do valor da casa no Crédito à habitação. O Estado vai servir de fiador dos cerca de 15% que os jovens tinham de dar como entrada até agora. Na reportagem desta semana do Contas-poupança, fizemos as contas para saber se compensa pedir este apoio.

Pedro Andersson

Não há nenhum desconto

Quando a medida foi anunciada, muitos jovens pensaram que o Estado lhes ia dar um desconto de até 15% na compra da casa. Nada mais errado. O que a Garantia pública pretende é dar a possibilidade a muitos jovens de conseguirem comprar casa mais cedo, mas endividando-se mais.

A medida até pode ser bem intencionada, mas os resultados deverão ficar abaixo das expectativas.

Aliás, com as medidas mais recentes, como a isenção do IMT e do imposto de selo, o preço das casas até pode vir a subir. E agora, com o Estado como fiador de até 15% do valor da casa, há mais dinheiro disponível para negociar com os vendedores. Teoricamente, estes apoios até vão acabar por ajudar quem já tem mais.

A economista Vera Gouveia Barros até compara este apoio a um bónus de 1 valor aos estudantes universitários para poderem escolher um curso melhor. Ajudará quem tinha uma nota de 17 valores (que passa para 18), mas de nada servirá a quem tinha 13 valores de nota final, porque apesar de subir para 14, continuará sem acesso ao curso que pretendiam.

A funcionar só no fim do ano

O apoio da garantia jovem já está em vigor, mas falta assinar os protocolos com os bancos. Depois, as instituições bancárias ainda têm 2 meses para pôr tudo a funcionar. Portanto, só lá para dezembro é que os jovens vão saber junto dos bancos se vão poder usar ou não esta ajuda para comprar casa. Seja como for, convém ter calma, porque o processo não vai ser fácil.

A taxa de esforço vai limitar muitos jovens

Vamos a um caso prático. Um jovem que peça um crédito à habitação de 300 mil euros, a 35 anos, com um spread de 0,8%, e que dê os atuais 10% de entrada (30 mil euros), vai pagar uma prestação mensal de 1.163 €.

Mas se esse jovem, com o apoio da garantia pública, pedir os 100% do valor da casa, neste caso os 300 mil euros, a prestação sobe para 1.292 € (mais 129 euros por mês). Ou seja, a ajuda do Estado vai representar mais 1.548 euros por ano. No final do contrato, vai gastar mais cerca de 54 mil euros. Será mais ou menos este o preço de poder comprar uma casa mais cedo, antes de ter dinheiro para dar como entrada. 

Convém também não esquecer de que o seguro de vida será também sempre maior até ao fim do prazo, porque o valor em dívida é maior.

A maioria dos bancos não concede empréstimos a quem tenha uma taxa de esforço superior a 40%.

Com este critério, um casal de jovens, para suportar uma prestação de 1.200 euros, teria de ter um rendimento mensal de 3.000 euros líquidos (em média 1.500 euros cada um).

Por aqui se percebe que quanto mais pedir um jovem ao banco, maior será a taxa de esforço, portanto é de prever que muitos pedidos de jovens que teoricamente têm acesso ao apoio, serão recusados por causa da taxa de esforço.

Mas também pode haver outros entraves como, por exemplo, ter uma casa em ruínas ou uma herança de um terço de uma casa na aldeia. Isso será um impedimento legal.

Se receber o apoio, amortize

Mas vamos imaginar que passa por todas as etapas e consegue mesmo um crédito de 100% do valor da casa. Um dos conselhos dos especialistas é tentar - caso possa - amortizar o máximo nos primeiros anos do contrato. É quando os juros são mais altos. Se conseguir amortizar antecipadamente os tais 10% do crédito à habitação da garantia do Estado, vai conseguir recuperar o dinheiro que gastaria se não fizesse nada.

Em resumo, aceder ao apoio será apenas para os jovens com rendimentos elevados. Se conseguir e precisar de comprar já uma casa, aproveite. Mas faça bem as contas, para amortizar o máximo que puder o mais depressa possível. Caso, contrário, este apoio vai sair-lhe muito caro.

Pode ver ou rever a reportagem aqui:

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