Já pode vender o excedente do seu painel solar, mas compensa?
Com a ajuda de vários leitores do blogue finalmente já tenho umas luzes sobre como está a funcionar a venda de eletricidade. Obrigado a eles pela paciência de passarem uma hora e tal ao telefone comigo :).
Na altura em que instalei o meu painel solar, a lei era simples: Eu instalava e só tinha de o registar na página da DGEG (Direção-Geral de Energia e Geologia). Fiz isso pessoalmente. A partir desse momento, tinha uma produção de autoconsumo. Tudo o que consumisse em tempo real era para mim e não contava para a minha fatura de eletricidade que era enviada para o meu fornecedor; por outro lado, o que eu não consumisse em tempo real era “oferecido” à rede a custo zero. Acordo simples e claro.
Ao registar-me na DGEG, eles informavam a e-redes (antiga EDP Distribuição) e atualizavam o meu contador para poder fazer essas contas. Assim aconteceu. Vieram rapidamente mudar o meu contador para um “inteligente” (bidirecional).
Os contadores inteligentes da eletricidade são bons ou maus? Parte II
E assim passaram 4 anos. E entretanto a lei do autoconsumo mudou. Para mim continua tudo igual (consumo instantaneamente o que produzo; o resto é oferecido à rede), mas já há portugueses que aproveitam a nova lei que entrou em vigor no ano passado para vender o excedente em vez de o oferecer à rede.
O que vos vou explicar a seguir é muito básico, mas é o que eu já entendi do processo. Foi-me explicado assim por quem já está a vender. Ainda me faltam alguns detalhes, que estou a investigar para fazer a reportagem para o Contas-poupança, mas quero desde já partilhá-los convosco porque esta informação pode ser muito útil para muitos de vocês.
Instalar
Passo 1: Instalação dos painéis. Este detalhe é óbvio, mas muito importante. Só pode vender eletricidade se tiver um painel ou painéis com uma produção igual ou superior a 350 W. Ou seja, eu tentei fazer isto mas fui logo recusado à partida porque o meu painel é só de 250 W. Portanto, se eu quiser vender o meu excedente de eletricidade produzida pelo painel fotovoltaico obrigatoriamente vou ter de comprar outro para somar ao que tenho ou substituí-lo por um de 350 W.
Fica então aqui a primeira nota que descobri: Isto só se aplica a quem tem pelo menos um painel de 350 W ou então mais do que um, que na soma de todos eles o mínimo de produção seja 350 W. Ficou claro este ponto?
Registar
Passo 2: Ao registar esses paineis na DGEG, vai receber uma carta da E-redes a avisar que vão substituir o contador (se já não for inteligente ou com as características necessárias para o processo de autoprodução). Pelo que entendi esta substituição do contador deverá ocorrer independentemente de querer vender eletricidade à rede ou simplesmente oferecer o excedente.
Aqui surgem várias situações. No meu caso, isso foi gratuito em 2016. Depois começou a ser pago (creio que cerca de 30 euros) e agora passou para 70 euros + IVA, ou seja cerca de 100 euros. Deve contar com esta eventual despesa que para muitos é inesperada. Também pode acontecer não ter de pagar nada, se a sua zona é uma das que vai ter os contadores substituídos nos próximos meses independentemente de ter painéis solares ou não.
CPE de produtor
Passo 3: Depois de ter o contador “novo”, deve contactar a E-redes e solicitar um CPE de produtor de eletricidade. Este CPE é diferente (e novo) do CPE que tem na sua fatura de eletricidade. Eu contactei a e-redes por telefone (contacto no google ou na app “e-redes”) e atenderam-me rapidamente. Simpaticamente disseram-me que não o podia ter porque era só a partir de 250 W. Foi assim que soube.
Fazer um contrato de venda
Passo 4: Após a alteração de contador e de ter um CPE de produtor, deve ligar para alguma empresa desta lista para contratar venda. https://www.erse.pt/eletricidade/funcionamento/comercializacao/
Deve ligar, mandar e-mail ou preencher o formulário de contacto de todas essas empresas a perguntar se compram eletricidade e a que preços (podem fazer-lhe o preço que quiserem). As pessoas com quem falei escolheram a empresa “Energia simples”. Aparentemente é a que faz os melhores preços e dá a resposta mais rápida. Não confirmei. Aceito outras opiniões vossas. Não tem de ser cliente de eletricidade da empresa a que vende eletricidade.
Começar a receber o dinheiro
Passo 5: Terá de preencher todos os documentos que essa empresa lhe mandar e indicar um IBAN onde, de X em X meses, lhe vão depositar na conta o valor devido.
Os preços que pagam são completamente (na minha opinião) ridículos. Estamos a falar de cerca de 3,5 cêntimos por kWh. Ou seja, se tiver de pagar 100 euros pela troca do contador, vai ter de vender 2.857 kWh de desperdício só para recuperar o valor do contador.
Só para terem uma ideia, o meu painel solar de 250 W produz 400 kWh/ano. Portanto, se eu tivesse de pagar 100 euros para me substituirem o contador, demoraria 7 anos só para amortizar o valor do contador. Fora o valor do painel.
Se estiver naquelas zonas em que a substituição do contador é de graça, parece-me ser uma boa alternativa. Na prática é tudo ganho (pouco, mas ganho). Seria só o trabalho de pedir o CPE de produtor (gratuito) e de assinar o contrato com a empresa que me vai comprar os excedentes.
Parece-me ser igualmente “menos mau” para quem tem vários painéis (porque quis, ou porque foi enganado) e assim, pelo menos, vai recuperar algum do dinheiro que está neste momento a desperdiçar completamente porque está a dar tudo o que produz a mais.
O Net metering de 15 em 15 minutos
Os novos contadores (pagos por si, ou gratuitos se estiverem para ser substituídos nos próximos meses) fazem uma contagem acumulada de 15 em 15 minutos. Isso é vantajoso para quem tem painéis solares. É que fazem uma média entre o que gastou e o que deu à rede a cada 15 minutos, em vez de simplesmente fazer a conta ao que consumiu naquele instante em que o painel esteve a produzir.
Vamos a um exemplo simples, que me foi explicado por uma pessoa que trabalha na área. Se usar uma chaleira elétrica que consome 1.000 W durante 1 minuto e o painel solar estiver a produzir 250 W naquele minuto, a minha chaleira só vai buscar 750 W à empresa fornecedora de energia. Mas com o net metering, se o painel produziu 700 W durante aqueles 15 minutos, vai descontar 700 W a tudo o que a minha casa consumiu durante esse período, desde que a minha casa tenha consumido mais do que os 700 W, como foi o caso da chaleira.
Com os registos de 15 em 15 minutos, só é considerado desperdício para a “rede” o que sobra da média entre o que o seu painel ou painéis produziram e o que a sua casa gastou em cada período de 15 minutos.
Isto parece ser um cálculo mais justo. Mais uma vez, para que isto aconteça vai ter de ter um contador que faça estas contagens parcelares e que as envie para a e-redes, para que a e-redes a envie para o seu fornecedor para que depois esses valores sejam refletidos na sua fatura de eletricidade. Se não sabe qual é a sua situação contacte a e-redes e pergunte se o seu contador é dos que faz net metering de 15 em 15 minutos.
Das duas uma, ou já o tem e confirma que isso está a ser feito, ou terá de pedir a mudança do contador com os respectivos custos para si (ou não, como lhe expliquei acima). Seja como for, gastar 100 euros para ter esta contagem de 15 em 15 minutos apenas com um, dois ou 3 painéis parece-me ser um péssimo negócio. Vai demorar provavelmente anos e anos a fio (talvez décadas) para recuperar esse seu “investimento”.
Para mim, não faz sentido ter de ser o consumidor a pagar o contador porque nunca será seu. Se sair de casa não o vai levar consigo.
Tenho mais algumas questões que ainda não domino, mas para já foi o que consegui saber. Espero que estas informações o ajudem a perceber se deve dar este passo ou como o dar.
Brevemente farei o balanço da produção em abril do meu painel solar.
Leia também: Quanto custa um painel solar?
Tem AQUI o vídeo com a instalação do meu painel.
Neste momento, o meu desafio é juntar todas estas formas de poupança diferentes para deixar de pagar eletricidade durante muitos anos. Explico neste artigo como estou a planear passar a ter faturas de eletricidade quase a zero. Ainda não consegui, mas vou no bom caminho.