Cidadão

Salário médio dos portugueses é de 1.615 € - subiu 2,6% em termos reais em 2025

A remuneração bruta mensal média por trabalhador subiu para 1.615 euros no terceiro trimestre de 2025, um aumento de 5,3% face ao mesmo período de 2024. Mas o número que realmente interessa é outro: descontando a inflação, o ganho real foi de 2,6%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). O que é que isso significa na prática?

Pedro Andersson

Sim, é uma média. Já sei que muito provavelmente muitos de vocês que estão a ler este artigo não ganha os tais 1.615 euros brutos por mês. Por outro lado, alguns de vocês ganham muito mais do que isso. 

Partilho estes dados para que perceba em que patamar se encontra, e possa avaliar se está na hora de tentar melhorar a sua situação. Se há pessoas a ganhar menos de 1.500 euros brutos por mês, pergunte-se o que tem de fazer - e se é razoável - para chegar a esse salário. E que profissões ou funções lhe podem gerar esse rendimento "normal".

De acordo com estes dados do INE, apesar de os preços continuarem a subir, o salário médio cresceu um pouco mais do que a inflação. Isso significa um ligeiro ganho de poder de compra para a maioria dos trabalhadores — não é muito, mas é melhor do que perder.

Onde os salários subiram mais

O INE destaca vários setores e dimensões de empresa com aumentos acima da média:

  • Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca: +13%
  • Empresas com 5 a 9 trabalhadores: +6,5%
  • Setor privado: +5,4%
  • Empresas de alta tecnologia industrial: +7,9%

No total, estes resultados abrangem 4,9 milhões de postos de trabalho, mais 1,8% do que em 2024. Ou seja, há mais pessoas empregadas e a receber ligeiramente mais.

Se não teve qualquer aumento, saiba que muitos portugueses tiveram. Pense no que pode fazer para alterar a sua situação: isso pode significar mudar de empresa ou até de profissão. Não é uma decisão fácil, mas não a deve descartar.

O significado dos 2,6% reais

A remuneração bruta total subiu 5,3%, mas como a inflação foi de 2,6%, o ganho real fica precisamente nos 2,6%.

A remuneração regular e a base tiveram subidas semelhantes em termos reais: +2,7%.

Importa notar que há uma tendência recente de desaceleração dos aumentos salariais reais: no trimestre anterior estavam em +3,1% e agora ficam nos +2,7%. Ou seja, os salários continuam a crescer, mas a um ritmo mais lento.

O que isto significa para o seu dia a dia?

A maioria dos trabalhadores sente que recebe mais… mas continua a sentir o peso dos preços. Um aumento real de 2,6% pode traduzir-se em pouco mais de 30 a 40 euros por mês para quem recebe cerca de 1.300 euros de salário base.

É dinheiro, mas não muda a sua vida. Gasta isso num jantar. Por isso, é importante utilizar este pequeno alívio para reforçar a sua estabilidade financeira: 30 euros investidos automaticamente todos os meses já lhe permite alcançar alguns resultados daqui a um ano.

O que pode fazer com estes aumentos — sugestões práticas

Mesmo que o aumento seja pequeno, pode transformar-se em algo significativo ao longo do tempo. Aqui ficam algumas estratégias simples e realistas:

1. Automatizar uma poupança mensal

Se recebeu um aumento de, por exemplo, 40 euros líquidos, coloque 20 euros de lado automaticamente todos os meses.
No fim do ano tem 240 euros. Em cinco anos, 1.200 euros — sem esforço.

Pode usar:

  • Certificados de Aforro
  • Um depósito a prazo com uma taxa decente
  • Um PPR com comissões baixas
  • Ou, se tiver mais experiência, ETFs globais

2. Amortizar o crédito à habitação

Mesmo com taxa variável em abrandamento, amortizar 500 ou 1.000 euros por ano pode reduzir anos de crédito.
Se usar metade do aumento anual, já está a poupar muito dinheiro a longo prazo.

3. Criar ou reforçar o “fundo de emergência”

Metade dos portugueses não tem 1.000 euros de lado.
Se for esse o seu caso, torne este o seu objetivo nº 1. A meta mínima são três meses das suas despesas mensais, o ideal são 6 a 12 meses.

4. Rever todas as suas despesas anuais

Salários sobem, mas muitas pessoas deixam que as despesas cresçam ainda mais depressa.
Faça um “reset”:

  • Mudança de tarifário de luz e gás
  • Negociar os preços dos seguros
  • Rever comissões bancárias
  • Cortar subscrições que não usa
  • Comparar supermercados e marcas

Uma poupança de 20 a 30 euros mensais em energia ou seguros equivale a um segundo aumento. Por isso é que digo que pode aumentar-se a si próprio.

5. Investir em formação

Use parte do aumento para melhorar competências.
Formação gera salários mais altos — e isso é o verdadeiro salto financeiro a longo prazo.


Os salários em Portugal estão a crescer acima da inflação, mas pouco. Ainda assim, um aumento real, mesmo pequeno, pode ser a diferença entre estagnar e avançar.

Com pequenos hábitos automáticos — poupança, amortização, e revisão de despesas — pode transformar um aumento de 30 ou 40 euros em centenas ou milhares de euros no futuro. É assim que se constrói estabilidade financeira, mesmo sem grandes salários.

Este alerta é importante porque a armadilha "normal" é sempre que recebemos um aumento (mesmo quando não nos apercebemos dele) é gastarmos esse dinheiro sem um critério específico.

Se a nossa vida estava organizada com base no que ganhamos (mesmo que com sacrifício), estes aumentos deveriam ser - nesta primeira fase - imediatamente dirigidos para liquidar qualquer divida ou crédito que tenhamos. Essa é a prioridade. Assim que liquidarmos essas dívidas (que corroem a nossa carteira por causa dos juros), a seguir deve atirar-se com toda a força para o seu fundo de emergência. Deve ter (mesmo que ganhe pouco) uma poupança de 5.000 euros ou 10.000 euros (6 a 12 meses de todas as suas despesas). Deve fazer isto, mesmo que demore 10 anos a atingir este objetivo. Acredite que isto muda a vida das famílias portuguesas.

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