O Estado decidiu novamente pôr em comercialização Obrigações do Tesouro junto dos cidadãos. Há 7 anos que isto não acontecia. No fundo, qualquer um de nós pode emprestar dinheiro ao Estado e receber juros com isso.
Mas será que compensa em relação aos Certificados de Aforro? O Contas-poupança foi fazer as contas. É a reportagem desta semana, em vídeo, emitida no Jornal da Noite na SIC.
O que são as novas OTRV?
O folheto da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública é claro: está é mais uma oportunidade para a sua poupança. Oferece uma taxa de juro que é a Euribor a 6 meses, acrescido de mais 0,25%, durante 6 anos, ou seja, até 2031. Há cerca de 7 anos que o Estado não oferecia aos cidadãos esta oportunidade de poupança.
Na última vez, em 2018, o Estado ofereceu a taxa Euribor a 6 meses + 1%. Olhando para o gráfico da Euribor, a OTRV antiga (que acaba agora) esteve durante 4 anos a render quase nada, porque a Euribor esteve negativa, mas em 2022, 2023 e 2024 rendeu 3, 4 e 5%, quando a Euribor disparou.
Se quiser comprar as obrigações atuais, só vai ganhar mais 0,25% para além da Euribor.
Em comparação com os atuais Certificados de Aforro, é melhor ou pior?
Depois dos prémios e descontados os impostos, o resultado é praticamente igual. Mas há um detalhe que faz toda a diferença. É que as OTRV têm comissões bancárias, e os Certificados de Aforro não.
Custos das comissões podem “comer” todos os lucros
Pedimos uma simulação à Caixa Geral de Depósitos, um dos bancos envolvidos, para subscrever OTRV. Pedimos uma lista dos custos para 1.000 e para 10 mil euros.
Como pode ver, caso não pague já comissão de guarda de valores, este cliente teria de pagar - entre outras comissões -, quase 12 euros de 3 em 3 meses. Afim dos 6 anos terei - apesar de receber juros do Estado, um prejuízo de quase 200 euros.
Se subscrever 10.000 euros, as comissões ficam mais diluídas, mas só vai receber em juros cerca de 579 euros. Dividindo por 6 anos, dá um rendimento de 96,50 € por ano. É o equivalente a menos de 1% líquidos.
Capital só é garantido após 6 anos
Para além disso, as OTRV têm ainda outro problema. É que o reembolso só é garantido no final dos 6 anos. Se o quiser resgatar antes de 2031, pode perder dinheiro. Vai ter de vender as suas OTRV em bolsa (com a intervenção do banco), ao preço que os outros investidores estiverem dispostos a pagar. Tanto pode ser mais, como menos do que o que pagou.
Outra desvantagem para os Certificados de Aforro, é que nas OTRV os juros são pagos na sua conta e depois gasta-os como quiser. Nos certificados eles acumulam de 3 em 3 meses, gerando o efeito da capitalização dos juros.
Há duas situações em que as OTRV pode tornar-se mais vantajosas: caso a Euribor dispare acima dos 2,5%, que é o limite dos Certificados de Aforro; e para quem tem muito dinheiro e já esgotou os 100 mil euros dos Certificados e quer continuar a investir em produtos do Estado com capital garantido no final.
Quem tem as OTRV antigas (de 2018), também as pode trocar por estas.
Se estiver interessado, tem até dia 15 de Julho para dar as suas ordens de compra.
Conclusão: as novas OTRV só se revelam competitivas para investidores com montantes elevados, dispostos a suportar comissões e a manter o título até ao vencimento, ou para quem antecipa uma Euribor persistentemente acima do teto dos Certificados de Aforro.