Podcast

PodTEXT | Devo vender o carro que tenho a mais para ter um fundo de emergência e começar a investir?

O José tem 45 anos, uma filha, salários médios, crédito à habitação, 2 carros (mais um da empresa) e só descobriu no ano passado que era possível fazer sobrar dinheiro ao fim do mês. Agora pergunta se seria uma boa ideia vender um dos carros que não precisa para criar pela primeira vez um Fundo de emergência e começar a investir e preparar a reforma. 15 minutos de conversa também podem mudar a sua vida. Acredita?

Inês de Almeida Fernandes

[Introdução - Pedro Andersson]

Olá. Sou o Pedro Andersson, jornalista especializado em finanças pessoais, e este é o Vamos a Contas, um episódio bónus, especial e semanal, do podcast Contas-poupança. Respondo às vossas perguntas em áudio que enviaram para o número do WhatsApp. A sua pergunta é muito importante! Vamos à dúvida desta semana.

[José, ouvinte do podcast]

Caro Pedro Andersson, sou o José e quero desde já agradecer-lhe por todos os ensinamentos, por nos fazer abrir os olhos de uma forma tão simples e efetiva. O meu enquadramento é o seguinte: tenho 45 anos, sou casado, tenho uma filha com dez anos, temos salários da classe média, com empréstimo bancário para a nossa casa, que ainda falta pagar durante 25 anos, e não temos qualquer fundo de emergência.

Só no final do ano despertei para a literacia financeira e percebi que necessitava de um fundo de emergência e de começar a investir o quanto antes, pois até aqui ao final do mês nunca sobrava nada. Este mês já aderimos ao lema do “pague-se a si em primeiro lugar” e fizemos o nosso orçamento familiar pela primeira vez para termos consciência das nossas despesas.

Em relação ao que está para trás, não há nada a fazer, por isso a minha questão é em relação ao que posso fazer hoje. Temos dois carros, um deles um Mini Cooper que comprei semi-novo na altura, um sonho. Tem um valor de mercado na casa dos 30 mil euros. Como neste momento tenho viatura de serviço da empresa onde estou, pensei na possibilidade de o vender, pois está a desvalorizar todos os dias.

Tem os custos normais de manutenção, IUC, seguro, e se o vendesse era possível criarmos de imediato o fundo de emergência e investir o que sobrasse, por exemplo, em dois PPR e ETF.

Gostava da sua opinião para perceber se esta estratégia seria a ideal e também questionar uma outra coisa: se no futuro mudar de emprego e não tiver viatura de serviço, posso recorrer ao fundo de emergência para adquirir uma nova viatura mais económica? Desde já agradeço. Continue o seu bom trabalho.

[Pedro Andersson]

Olá! Muito obrigado pela sua pergunta. Fico muito contente quando recebo mensagens como a sua, porque mostra uma coisa simples: é sempre possível mudarmos para melhor, sobretudo quando passamos a ter conhecimento. Isto é absolutamente fundamental.

Reparem como, às vezes, uma conversa de dez ou 15 minutos, como é o caso de um episódio do podcast, pode mudar completamente a forma como vemos o nosso dinheiro. Passamos muitos anos a viver a nossa vida de uma forma que considerávamos normal para depois chegarmos à conclusão de que estávamos a fazer muitas coisas mal. O que é que fazemos quando descobrimos isto? Mudamos. E este despertar para a vida financeira e para a literacia financeira é uma coisa extraordinária.

Isso aconteceu comigo, por isso não estou a falar de uma coisa teórica. Eu passei por este momento “Eureka” que aqui o nosso amigo passou. E o que é que este nosso amigo fez? Imediatamente começou a fazer um orçamento mensal e começou a pagar-se a ele próprio primeiro. Este é um truque básico, porque se não retirarmos 10% daquilo que ganhamos mensalmente, logo assim que o recebemos, vamos gastá-lo.

Não vamos fazer de propósito para gastar, porque só gastamos o que temos até ao limite do que temos. Mas se logo no princípio do mês o valor disponível para gastar for definido, é muito mais fácil obrigarmo-nos a gastar de acordo com aquilo que temos na conta.

A parte boa disto tudo, e já disse isto várias vezes, é que se precisar desse dinheiro, ele está lá. Está numa conta à parte e é só ir buscar. Estamos simplesmente a pagar-nos a nós próprios primeiro.

Agora vamos à questão do carro, que é extraordinária. Infelizmente, por falta de literacia financeira ou simplesmente por gosto – e atenção que não estou aqui para fazer juízos de moral –, há pessoas para quem o sonho, e o nosso amigo referiu isso, pode ser um carro. Nós pelos nossos sonhos, fazemos tudo.

Portanto, é perfeitamente normal que algumas pessoas comprem um carro de 30 mil euros ou mais, não tendo sequer um fundo de emergência. Ou seja, tudo o que ganham é para viver bem, seja lá o que for o conceito de “bem” neste caso, e para ter aquilo que mais sonham. Tanto faz se é um carro ou outra coisa qualquer. Pode ser uma casa de férias, umas férias no estrangeiro, qualquer coisa.

Mas com isto esquecem-se de que a viva normalmente acontece e que haverá um momento em que essa decisão vai fazer muita diferença. Portanto, como percebeu que não tem um fundo de emergência, de facto, concordo consigo. Acho que não lhe vou ensinar muito mais, porque já percebeu como isto funciona. Temos património e há situações em que é necessário transformar o património em dinheiro.

Se tivesse um imóvel em vez de um carro, em princípio, o imóvel valoriza. Mas quando o nosso património está, neste caso, num carro, a coisa complica-se. Quase de certeza, com exceção dos carros de coleção, é um bem que está sempre a desvalorizar. Não sendo eu especialista em carros, nem nada que se pareça, a informação que tenho é que só no primeiro ano, para um carro de 30 mil euros, a desvalorização é de cerca de três mil euros. E depois desvaloriza mais mil euros por ano, todos os anos. Andará à volta desses valores.

O que é que isto quer dizer? Significa que, por exemplo, para receber em juros dois mil euros, um montante que compensasse a desvalorização do carro, vamos imaginar, era preciso ter investido em certificados de aforro cerca de 100 mil euros. Porque se tivesse os tais 30 mil euros a render alguma coisa que se veja, num fundo PPR ou num ETF, etc., esse dinheiro estava a fazer dinheiro e não a perder.

No entanto, como vocês já sabem, mas vou repetir, não há nenhuma garantia de que vá ganhar, mas em média, passados entre cinco e dez anos, nunca houve ninguém a perder dinheiro com investimentos relacionados com as bolsas dos Estados Unidos da América.

Em comparação com um carro, que é disso que estamos a falar, aí certamente perde pelo menos mil euros por ano. Portanto, entre a possibilidade de ganhar dinheiro todos os anos, aproveitando também o efeito dos juros compostos, e chegar à idade da reforma com 100 mil ou mais euros, ou ter um carro de 30 ou 40 mil euros que vai trocando, por exemplo, de dois em dois anos, veja bem a diferença que isto pode fazer na sua vida.

Sendo que se acontecer algum imprevisto, seja uma situação de desemprego, de doença, de incêndio, de inundação, de acidente com o carro, aí não tem nada. Este é o passo fundamental, primordial, das finanças pessoais: ter um fundo de emergência.

Penso que 15 mil euros para uma família normal já é um excelente fundo de emergência. Pode eventualmente ser um bocadinho menos, o importante não é tanto o valor, mas a sua paz mental. O valor certo é aquele que o deixar descansado. O objetivo do fundo de emergência é dar-nos equilíbrio, paz mental e financeira.

No caso deste nosso ouvinte, a situação ainda é mais fácil de decidir porque tem um carro da empresa, por isso não tem necessidade de ter outro carro. Para que é que vai ter outro carro parado, sendo que está a desvalorizar? Está a perder o valor do carro aos poucos.

É que não é só a desvalorização anual do carro, é também o IUC, a manutenção, o seguro, todas essas coisas que o nosso amigo também referiu. Faça essas contas e brinque com este valor para se convencer. Isto é, pense quanto é que tinha de ter no banco, numa corretora, em PPR ou em certificados de aforro para obter o valor que quer.

Vai assustar-se de certeza, porque quando começamos a fazer contas, as decisões tornam-se muito mais fáceis. Não há como enganar. Depois, é uma questão de opção. Se quiser vender o carro, venda, se não quiser, também ninguém o obriga, é uma decisão sua, assim como é o seu dinheiro e o seu património.

Depois, acaba por chegar à mesma conclusão a que eu chegaria se estivesse na sua situação. Ou seja, o dinheiro da venda do carro seria para o fundo de emergência e para investir, por isso, se acontecer alguma coisa e deixar de ter carro de serviço, pode comprar um carro, seja a pronto ou a crédito. Ou pode usar transportes públicos ou compra uma bicicleta, o que seja. As opções são muito mais do que aquelas a que estamos habituados a pensar.

O desafio que vos lanço é o seguinte: vejam que património têm que desvaloriza e do qual possam abdicar para fazer dinheiro rápido, antes que desvalorize ainda mais, para pôr esse dinheiro a render ou para criar de imediato o fundo de emergência. Não só o fundo de emergência vai transformar a vossa vida, como vos vai trazer paz mental e financeira.

Em resumo, está no caminho certo. Percebeu muito rapidamente o que tem de fazer, isso é muito importante, porque há pessoas que sabem o que fazer, mas não dão o passo seguinte que é agir. E já está a agir. Portanto, meu amigo, já está no campeonato certo. A partir de agora é afinar as coisas e começar a perceber quais são as melhores ferramentas para cada um dos seus objetivos.

Fico muito feliz por ter recebido a sua mensagem, por ter partilhado a sua experiência e face aquilo que me perguntou, espero ter respondido. Muito obrigado por me terem acompanhado em mais um episódio do podcast Contas-poupança. Para mim é um prazer saber que estão desse lado.

Boas poupanças!

Aprenda a gerir melhor o seu dinheiro

Respondo a esta questão no episódio desta semana. Já sabe que às quartas-feiras respondo às vossas perguntas. Saber é poder (nas finanças pessoais também). Disponível nas principais plataformas de podcasts:

ou pode ouvir diretamente aqui:

*****

Para além do episódio principal às segundas-feiras, às quartas-feiras respondo às vossas perguntas em áudio.  

ENVIE A SUA PERGUNTA EM ÁUDIO (gravada) PELO WHATSAPP 927753737

Aproveite a minha boleia financeira (gravo em áudio uma “conversa” no carro enquanto faço as minhas viagens e faço de conta que você vai ali ao meu lado) e veja como pode aumentar-se a si próprio. São uma espécie de programas de rádio para escutar enquanto faz outras coisas. Subscreva o podcast na plataforma em que estiver a ouvir para ser avisado sempre que houver um episódio novo. Não estranhe ouvir o motor do carro, buzinadelas e o pisca-pisca. Faz parte da viagem.

Boas poupanças!

Últimas